Trans e a questão de gênero nos esportes: muito mais que isso.

Feliz Ano Novo gente.

Volta de feriado prolongado, férias  se iniciando para muitos, e nós aqui  que estivemos  pensando há algum tempo qual seria a primeira matéria de 2018.

 Transgêneros. Trans . Ei-la aqui: a questão de gênero. Nunca veio a tona tanta discussão por várias vertentes desta questão. Várias mídias abordando o assunto. Seja em novela ou revista, e espero, mais que um julgamento de certo ou errado, normal ou patológico, poder contribuir para o que se tem na literatura médica, baseado em evidências científicas. 

As perguntas são muitas. As respostas muito poucas. As conclusões, diria, quase que nenhuma. Ou seja :

pouco se sabe do assunto e muitas pesquisas ainda precisam ser feitas sobre o mesmo.

Hoje em um chat de endocrinologistas que posso dizer do mais alto nível, vi postado um artigo que comento e posto a fonte no final para que vocês tenham acesso, sobre se, os transgêneros, fossem eles, mulheres ou homens, teriam mais vantagens nas competições esportivas.  Estamos em ano de copa do mundo e quem sabe,  alguma das atletas da seleção feminina, seja trans. E aí? Teriam elas mais competitividade e vantagens que uma atleta do sexo feminino? Quais as causas de uma pessoa, independente de ter nascido masculino ou feminino, quizer ou vier a se tornar trans? Existem algumas patologias endócrinas que em outro post posso comentar, pois o foco deste não é este.

Foi citado o caso da judoca Ednanci que recentemente fez sua cirurgia.

O caso de se tornar trans, vai muito além das competições esportivas e o desempenho deste ou desta atleta, mas sim do impacto que isto traz para o (a) próprio (a), seja nos campos emocional, psicológico, econômico, social entre outros.

No artigo em questão, foi feita uma  revisão sistemática até outubto de 2016, que comento  a seguir;

 

REVISÃO SISTEMÁTICA

Pessoas desportistas e transexuais: uma revisão sistemática.

Literatura relativa à participação no esporte e políticas de esporte competitivo.

 

A questão  que se pergunta:

Se as pessoas transgêneros devem  e podem  competir no esporte de acordo com sua identidade de gênero; algumas pessoas transgêneros que se envolvem no esporte, tanto de forma competitiva como de lazer, relatam discriminação e vitimização.

Esta revisão também descobriu que as pessoas transgêneros tiveram uma experiência principalmente negativa em esportes competitivos devido às restrições que a política do esporte colocou sobre elas. A maioria das políticas de esporte competitivo transgênero que foram revisadas, não eram baseadas em evidências.

Essas restrições de lugar para pessoas transgêneros, precisam ser consideradas e ainda merecem ser muito revisadas, pois são poucos os estudos na literatura

Pontos chave:

A maioria das pessoas transgêneros tem uma experiência negativa ao se envolver em esportes competitivos e atividades físicas relacionadas ao esporte. Não há pesquisa direta e consistente para sugerir que indivíduos transgêneros (e indivíduos masculinos transgêneros) tenham uma vantagem atlética no esporte e, portanto, a maioria das políticas esportivas competitivas são discriminatórias contra essa população.

Existem várias áreas de pesquisas futuras necessárias para melhorar significativamente o conhecimento sobre as experiências das pessoas transgêneros no esporte,  e isto vir a  trazer uma nova luz e diretrizes  ao desenvolvimento de políticas esportivas mais inclusivas e, consequentemente o mais importante, melhorar a vida das pessoas transgêneros, tanto física quanto psicossociamente.

 

1Nottingham NG1 5BH, Reino UnidoNottingham Center for Gender Disforia, 3 Oxford Street,2Loughborough University, Loughborough, Reino Unido3Divisão de Psiquiatria e Psicologia Aplicada, Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde, Universidade de Nottingham, Nottingham, Reino UnidoEscola de Esporte, Exercício e Ciências da Saúde.

Sports Med (2017) 47: 701-716 DOI 10.1007 / s40279-016-0621-yREVISÃO SISTEMÁTICA

Bethany Alice Jones1,2 • Jon Arcelus1,3 • Walter Pierre Bouman1 • Emma Haycraft2Publicado online: 3 de outubro de 2016

 Artigo  foi publicado com acesso aberto em Springerlink.com

 

Lizanka Marinheiro

Chefe do Setor de Endocrinologia do Instituto Fernandes Figueira -FIOCRUZ

Profa. Pós – Graduação dos Programas de Saúde da Mulher e de Pesquisa Clínica Aplicada a  Saúde da Mulher

IFF- FIOCRUZ