Síndrome metabólica e sua relação com o câncer de mama.

 

Muito se tem ouvido falar hoje sobre  síndrome metabólica. O que vem a ser?

Ela é definida por vários distúrbios, entre eles a resistência insulínica, a dislipidemia, (aumento das taxas de colesterol e /ou de triglicerídeos), e a hipertensão arterial. Ela foi descrita pela primeira vez em 1988 e identificada como um fator de risco para as doenças cardiovasculares.

Vários estudos da atualidade mostram  uma relação entre essa síndrome e o aumento de risco para o desenvolvimento de  câncer, como os de mama, cólon, pâncreas e endométrio. Há uma nítida relação entre o aumento do risco relativo estimado para hiperinsulinemia (aumento dos níveis de insulina no sangue, podendo levar a diabetes),como preditor de alguns cânceres.

A prevalência de síndrome metabólica varia de 22 a 26,8% na população geral e estima-se uma prevalência de 60% em indivíduos obesos. Além disso, ela tem se tornado cada vez mais freqüente nas pacientes climatéricas.

Na menopausa há  uma redistribuição da gordura corporal levando a um aumento da obesidade abdominal e alterações no metabolismo lipídico, possivelmente iniciando alguns anos antes da data da menopausa, o que poderia explicar o aumento do risco de síndrome metabólica em mulheres na pós-menopausa. O sobrepeso, a obesidade e, principalmente, o aumento da circunferência abdominal, devido a redistribuição da gordura corporal, são os principais fatores que podem levar a síndrome metabólica.

As duas definições mais utilizadas para síndrome metabólica são as diretrizes do The National Cholesterol Education Program (NCEP/ATPIII) e da International Diabetes Federation (IDF) descritas na Tabela abaixo.

Definições de Síndrome Metabólica

Parâmetros

NCEP/ATPIII

IDF

Cintura > 94cm (homens) e        > 80cm em mulheres

Nº de anormalidades

> 3

e > 2

Glicemia

> 100mg/dLD ou tratamento para hiperglicemia

> 100mg/dLD ou diagnóstico de diabetes

HDL-colesterol

< 40mg/dL (homens); < 50mg/dL (mulheres) ou tratamento para HDL-colesterol baixo

< 40mg/dL (homens); < 50mg/dL (mulheres) ou tratamento para HDL-colesterol baixo

Triglicerídeos

> 150mg/dL ou tratamento para triglicerídeos alto

> 150mg/dL ou tratamento para triglicerídeos alto

Obesidade

Cintura > 102cm (homens) ou    > 88cm (mulheres).

Hipertensão

> 130/85 mmHg ou tratamento para hipertensão

> 130/85 mmHg ou tratamento para hipertensão

Fonte: Meigs,2008.

A obesidade, hoje, é um problema mundial, e sua prevalência tem aumentado significativamente com o passar dos anos. Além de ser o principal fator de risco para síndrome metabólica, a obesidade em si, já é um fator de risco reconhecido para doenças cardiovasculares e para  o câncer de mama. Mulheres na pós-menopausa e obesas possuem um maior risco de desenvolve-lo.

Estamos desenvolvendo em nossa linha de pesquisa no Instituto Fernandes Figueira-FIOCRUZ, com as alunas de Doutorado e Mestrado, VIVIANE ESTEVES, e LAURA ZAIDEN, ambas ginecologistas , estudos sobre o assunto, que tentam relacionar a síndrome metabólica , o aumento do risco de câncer de mama, e o pior prognóstico destes tumores, quando existe correlação com a mesma.

Várias são as hipóteses que tentam explicar a relação entre síndrome metabólica e o aumento do risco para desenvolver câncer de mama. Dentre elas podem ser listadas: os altos níveis de estrogênio (o hormônio feminino produzido pelos ovários) circulantes devido a sua produção periférica aumentada pela gordura; a hiperinsulinemia mediante a modulação da via do fator de crescimento insulina-símile; a dislipidemia com os baixos níveis de HDL-colesterol,(o chamado bom colesterol), que pioram o perfil hormonal, com o aumento de mitógenos da mama; aumento das adipocitocinas, em especial a leptina, substâncias que aumentam a formação de novos vasos sanguíneos (angiogênese),este, um mecanismo essencial no desenvolvimento do câncer de mama.

Outros tipos de cânceres também estão relacionados com a síndrome metabólica, a exemplo do colon – retal, próstata e pâncreas.

Com uma alimentação saudável, com a prática regular de atividade física e o controle do peso corporal é possível evitar 28% dos casos de câncer de mama , como também as doenças cardiovasculares. Assim sendo, nada como iniciar desde cedo a prevenção, adotando  hábitos saudáveis de vida!

Lizanka Marinheiro

Phd Professora da Pós-Graduação da Saúde da Mulher e da Criança

Instituto Fernandes Figueira Fiocruz