Perda de sono e metabolismo: como a falta de sono direciona o indivíduo rumo ao diabetes e a obesidade.

     Sabemos hoje que para quem dorme menos do que sete ou oito horas por noite, a probabilidade de se ganhar peso e desenvolver diabetes tipo 2 são maiores. Vamos entender como isso acontece?

     Quando nos alimentamos, o nível de açúcar (glicose) no nosso sangue aumenta. Para que essa glicose entre nas células e assim gere energia para o nosso corpo, um hormônio chamado insulina precisa abrir a porta e permitir a absorção da glicose pelas células do corpo. Porém, quando temos um desajuste nesse sistema, a glicose não entra na célula e se acumula na corrente sanguínea, elevando os níveis de açúcar no sangue. Assim, o indivíduo entra num estado hiperglicêmico, que se permanecer ao longo de semanas ou anos pode levar ao diabetes tipo 2.

        Mas, afinal de contas, o que o sono tem a haver com isso? Estudos demonstraram que ficar sem dormir ou dormir menos do que o necessário,  bloqueia a liberação de insulina pelo pâncreas e torna as células menos receptivas à mesma. Dessa forma, a entrada de açúcar nas células fica prejudicada, os níveis de glicose se elevam no sangue, aumentando as chances de desenvolvimento de diabetes tipo 2.

       Um outro desajuste metabólico que a privação de sono desencadeia é no aumento da fome. Sim, ficar sem dormir, vai te deixar com mais fome! Além de poder levar a alterações na escolha alimentar e atrapalhar a absorção de outros nutrientes, gerando problemas gastrointestinais. 

        Diversas pesquisas apontaram que a falta de sono desequilibra o sistema hormonal que controla o apetite, uma vez que aumenta a liberação de grelina – hormônio responsável pela sensação de fome – e diminui a liberação de leptina – hormônio que nos dá a sensação de saciedade. Além de provocar esse desbalanço, a privação de sono  aumenta o nível de endocanabinoides – substâncias químicas que estimulam o apetite e aumentam o desejo de beliscar. O resultado disso, são mensagens químicas nos levando a comer em excesso.

         Um outro desequilíbrio provocado pela perda de sono é a preferência  aumentada por alimentos hipercalóricos, isso acontece  porque ficar sem dormir acaba por “desligar” a parte do nosso cérebro responsável pelo julgamento ponderado e a  tomada de decisão controlada e “acionar” regiões que impulsionam motivações e desejos. Assim, tendemos a optar por alimentos com mais calorias depois de ficarmos sem dormir ou não dormirmos o necessário.

         Por fim, não ter um sono ajustado leva ao aumento da atividade simpática,  ocasionando um aumento da liberação de cortisol, hormônio responsável por cultivar bactérias “ruins” que inflamam o microbioma intestinal, alterando de forma negativa a absorção dos nutrientes. 

         Assim, alterações no sono contribui de forma significativa para o aumento das chances de uma pessoa ficar acima do peso e desenvolver diabetes tipo 2. E aí, como anda seu sono?

 

Referência: 

Walker, M. (2018).Por que nós dormimos: A nova ciência do sono e do sonho In: M, Walker,Câncer, ataque cardíaco e uma vida mais curta: privação de sono e o corpo, (M.L.Borges, Trad). Rio de Janeiro:Intrínseca. 

Covassin N, Singh P, McCrady-Spitzer SK, St Louis EK, Calvin AD, Levine JA, Somers VK. Effects of Experimental Sleep Restriction on Energy Intake, Energy Expenditure, and Visceral Obesity. J Am Coll Cardiol. 2022 Apr 5;79(13):1254-1265. doi: 10.1016/j.jacc.2022.01.038. PMID: 35361348; PMCID: PMC9187217.

 

Profa. Dra. Lizanka Marinheiro, PhD, Md

Professora  das Pós-graduações em Saúde da Mulher e em Pesquisa Clínica Aplicada à Saúde da Mulher

Coordenadora da Pós-Graduação em Endocrinologia Feminina e Chefe do Ambulatório de Endocrinologia Feminina

Instituto Nacional de Saúde Fernandes Figueira – FIOCRUZ