Segundo dados do IBGE, 24% da população brasileira (45 milhões de pessoas) é portadora de algum tipo de deficiência, e menos de 1% delas está inserida no mercado de trabalho. As privações e estigmas sociais que pessoas com deficiência enfrentam são bem reconhecidas, embora, pouco seja feito para ampliar a inclusão. Parte da limitação está na forma como a sociedade enxerga essas pessoas, o quanto está disposta a oferecer serviços e o quanto os reconhece como pessoas com desejos e direitos integrais. Quando pensamos no acesso à serviços de saúde, um dos direitos mais básicos de qualquer cidadão, o quanto pessoas com deficiência estão de fato inclusas e são acolhidas nesses espaços?
Uma pesquisa realizada pela Escola de Medicina de Harvard em conjunto com o Hospital Geral de Massachusetts, levantou que apenas 56,5% dos médicos recebiam pacientes com deficiência em suas clínicas e que apenas 40,7% se sentiam confiantes quanto a sua capacidade de fornecer atendimento a essas pessoas com o mesmo nível de qualidade dispensado aos pacientes sem deficiência. Em parte, esses números revelaram que os médicos carregavam certo nível de preconceito contra esses pacientes, expressado pelas percepções negativas a respeito de suas vivências como, por exemplo, presumir que pessoas com deficiência não são sexualmente ativas e, portanto, não precisam de prevenção ou tratamento para infecções sexualmente transmissíveis, ou mesmo, não precisam receber orientações sobre métodos contraceptivos. Também há médicos que presumem que pessoas com deficiência não possuem qualidade de vida ou não tem interesse em preservar a aparência física e, portanto, podem deixar de ser orientadas sobre cirurgias estéticas reparadoras, por exemplo. Além do viés de percepção dos médicos, a respeito da vida desses pacientes, o mesmo estudo aponta para uma falha acadêmica na formação e treinamento desses profissionais, pois os currículos não incluem suficiente treinamento sobre deficiência, nem consideram educar a respeito da competência cultural e etiqueta para deficiência. Pessoas com deficiência tem incapacidades, mas não são incapazes.
• Na psicologia brasileira, o ensino e treinamento a respeito das formas de vivência, portando deficiências, também é bastante limitado. Normalmente o esforço de inclusão desses pacientes vem do próprio profissional que busca se especializar e oferecer uma clínica inclusiva, infelizmente, são poucos os profissionais que manifestam interesse e, de fato, se capacitam. Quando consideramos o desenvolvimento infantil e a avaliação psicológica, os recursos que auxiliam o profissional a avaliar o desempenho de um paciente são ainda mais limitados, ou até inexistentes, para alguns tipos de deficiência. Por exemplo, testes psicológicos que avaliam a habilidade de atenção concentrada e fornecem escores padronizados para sustentar um possível diagnóstico de TDAH, são geralmente administrados em forma de tarefas visuais. Caso o paciente tenha deficiência visual, essa mesma habilidade precisa ser avaliada e acessada por outra via, como a via auditiva por exemplo. Instrumentos alternativos para essas situações são ainda escassos, assim como as pesquisas relacionadas são poucas e enfrentam muitas limitações. O paciente corre o risco de não ser avaliado com a mesma precisão que receberia caso não fosse portador de uma deficiência. Essa e outras limitações interferem na construção subjetiva dessas pessoas, que podem sentir que os profissionais não compreendem as suas vivências. Contudo, a deficiência é uma parte comum da condição humana e pode acometer qualquer pessoa, merecendo pois uma maior atenção e cuidado dos profissionais de saúde!
Fontes:
Kent L. Many doctors have negative perceptions of patients with disabilities – and that impacts quality of care, study finds. CNN. 04 de fevereiro 2021. Acesso em: 07 de fevereiro de 2021. Disponível em: https://edition.cnn.com/2021/02/04/health/doctor-disabilities-perceptions-wellness/index.html
Verdélio A. Apenas 1% dos brasileiros com deficiência está no mercado de trabalho. Direitos Humanos – Agência Brasil. Acesso em 07 de fevereiro de 2021. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-08/apenas-1-dos-brasileiros-com-deficiencia-esta-no-mercado-de
Por: Vanessa Soares. Aluna de mestrado acadêmico do programa de pós-graduação em pesquisa aplicada à saúde da mulher do IFF/FIOCRUZ.
Orientadora: Profª Drª Lizanka Marinheiro.