O que é melhor : emagrecer rápido ou mais lentamente?

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A obesidade é hoje um problema de saúde pública. As doenças que tem  a obesidade como fatores de risco tais como hipertensão, diabetes, câncer e doenças cardiovasculares, chegam a níveis alarmantes no mundo inteiro. Daí, o grande número de publicações na literatura médica indexada, como também na imprensa leiga sobre o tema.

Um grande questionamento que se faz no dia a dia de nossos consultórios, é o porque se ganha peso depois que se emagrece muitas vezes, e qual a melhor dieta para se alcançar resultados mais efetivos e mais rápidos.

Recente pesquisa no Britsh Journal of Medicine, (BJM), concluiu que  a perda de peso gradual não é necessariamente melhor que uma rápida perda de peso para o controle de peso a longo prazo. Este  novo estudo desafiou a crença comum de que a perda de peso gradual é melhor a longo prazo do que a perda de peso rápida. Os resultados mostraram que a recuperação  do  peso era tão comum, independentemente da velocidade da perda de peso.

Ao longo da última década, os especialistas têm recomendado uma dieta com uma perda de peso gradual para pessoas obesas, provavelmente porque eles acreditam que elas precisam além de emagrecer, estabelecer  hábitos alimentares mais saudáveis.

Para testar esta hipótese pesquisadores australianos randomizaram  204 adultos obesos (índice de massa corporal 30-45 kg / m²), dividindo-os em dois grupos.Um colocado em um programa de perda de peso rápido,  de 12 semanas, em uma dieta de  muito baixas calorias (450-800 kcal / dia),  e outro, num programa com o objetivo de uma perda gradual de peso, em 36 semanas, reduzindo  o consumo diário de energia dos participantes por cerca de 500 kcal. Os participantes que perderam mais de 12,5% do seu peso corporal inicial, foram então, colocados em uma dieta de manutenção de peso por três anos.

Os resultados publicados na Lancet Diabetes  and Endocrinology, mostraram que os participantes que perderam peso mais rapidamente eram mais propensos a alcançar a sua meta : 81% dos participantes desse grupo, perderam  pelo menos 12,5% do seu peso corporal, em comparação com apenas 50% no grupo incluído no programa de perda de peso progressiva. No final do período de três anos de acompanhamento, os pesquisadores descobriram que a maioria dos participantes tinham recuperado a maior parte do peso. Aqueles inseridos no grupo  de perda de peso gradual tinham recuperado uma média de 10,4 kg, 71,2% do peso que tinham emagrecido, enquanto aqueles pertencentes ao programa de perda rápida,  recuperaram rapidamente 10,3 kg, 70,5% .

A maior limitação do estudo foi ter excluído fumantes, diabéticos, e aquelas que usavam algum tipo de droga que interferisse no peso, ou que já tinham sido severamente obesos, o que torna os resultados  difíceis de se generalizar para a maioria das pessoas que procuram ajuda médica para emagrecer.

Em um comunicado Katrina Purcell, nutricionista da Universidade de Melbourne e primeiro autor do artigo, disse: “Em todo o mundo, as diretrizes recomendam a perda de peso gradual para o tratamento da obesidade, refletindo a crença generalizada de que a rápida perda de peso leva a uma recuperação mais rápida. No entanto, nossos resultados mostram que atingir uma meta de perda de peso de 12,5% é mais provável, e mostra uma  de abandono menor, quando esta perda de peso é feita  mais rapidamente.1 Corby Martin e Kishore Gadde, do Pennington Biomedical Research Centro em Baton Rouge, Estados Unidos, comentam a partir do referido estudo, que a taxa de recuperação de peso perdido, não está associada à velocidade com que se emagrece, podendo essa afirmação ser falsa.”Os médicos devem ter em mente que diferentes abordagens de perda de peso podem ser adequadas para diferentes pacientes no tratamento da obesidade clínica, e que os esforços para reduzir a velocidade da perda de peso inicial podem dificultar o seu sucesso de perda de peso final.” 2

“Pode ser que o melhor para a maioria das pessoas seja perder peso ainda mais lentamente do que neste estudo, e mais trabalhos são necessários neste assunto, para testar esta hipótese”.

Na nossa opinião não existe dieta ideal; os programas alimentares para terem um maior aderência devem ter cardápios bem balanceados, coloridos, de fácil execução e preço convidativo; por sua vez, as pacientes devem estar motivadas, ter disciplina e calma; muitas vezes , será necessário para o sucesso do tratamento a associação de terapia medicamentosa e psicológica, além de claro, um programa de exercícios físicos regular.

Lizanka Marinheiro

Coordenadora da Pós-Graduação em Endocrinologia Feminina

Instituto Nacional da Saúde da Criança, Mulher e Adolescente

FERNANDES FIGUEIRA – FIOCRUZ

Referências

01. Purcell K, Sumithran P, Prendergast L, Bounio CJ, Delbridge E, Proietto J. O efeito da taxa de perda de peso na gestão de peso a longo prazo: um estudo controlado randomizado. Lancet Diabetes Endocrinol 2014; publicado online 16 de Outubro. [Lancet Diabetes Endocrinol resumo on-line]

02. Martin CK, Gadde KM. A perda de peso: lenta e constante não é a vencedora. Lancet Diabetes Endocrinol 2014; publicado online 16 de Outubro. [Lancet Diabetes Endocrinol artigo visualização online]

BMJ 2014; 349: g6267