Chegando o fim do ano. É uma preocupação comum de todos os pais o desempenho com provas escolares, vestibular, e mesmo onde colocar seu filho no ano que vem. Desde se vão conseguir vaga na escola pública à na mais disputada escola privada. Sempre, existiu a exigência/expectativa com a satisfação-desejo-cobrança, de nossos pais para conosco, e muitas vezes a perpetuação deste modelo com e nossos filhos; terem um bom desempenho escolar e passar de ano. E este modelo hoje, como esta? O que temos observado em todos a esferas?…Vejo diariamente em meu consultório e na rede pública onde trabalho há 30 anos, muita ansiedade dos pais, e das crianças com relação ao tema. Logo, o impacto do mesmo na saúde é BEM MAIOR do que vocês podem imaginar….
Convido-lhes a ler as reflexões da Carol Dweck, transcrita abaixo do Portal Raízes.
O Poder Do “Ainda Não” – Uma Reflexão Da Psicóloga Americana Carol Dweck
Por Portal Raízes
“Ouvi falar de um colégio em Chicago onde os alunos precisavam passar em um certo número de cursos. E se não passassem em algum curso recebiam a nota ‘Ainda não’. Eu achei aquilo fantástico, pois se você recebe uma nota baixa, você pensa: ‘Não sou nada, não chegarei alugar algum’. Mas se você recebe uma nota ‘Ainda Não’, você entende que está numa curva de aprendizagem. Ela te mostra um caminho no futuro. ‘Ainda Não’ também me fez entender um evento crítico no início da minha carreira, um momento realmente decisivo. Eu queria ver como as crianças lidavam com desafios e dificuldades, então eu ofereci às crianças de 10 anos, problemas que eram ligeiramente difíceis para elas.
Algumas reagiram de maneira surpreendentemente positiva. Disseram coisa como: ‘Eu adoro um desafio’, ou: ‘Sabe, eu esperava que isso fosse informativo’. Elas entenderam que as suas habilidades poderiam ser desenvolvidas. Elas tinham o que eu chamo de mentalidade do crescimento. Mas outros alunos acharam trágico, catastrófico. Da perspectiva de sua mentalidade fixa, sua inteligência havia sido posta em julgamento e elas fracassaram. Em vez de se regalarem no do Poder do Ainda, elas foram agarradas pela tirania do Agora.
E o que esses alunos (de mentalidade fixa) fizeram em seguida? Disseram que provavelmente vão trapacear da próxima vez, em vez de estudar mais, porque não passaram em um teste. Em outro estudo, após o fracasso, eles procuraram alguém que tivesse ido pior do que eles para que pudessem sentir-se bem sobre si mesmas. Em um estudo após estudo: Elas fugiram das dificuldades.
Cientistas mediram a atividade elétrica do cérebro enquanto estudantes encaram um erro.
À esquerda, vemos os estudantes com mentalidade fixa. Quase não há qualquer atividade. Eles fogem do erro, não se envolvem com o erro. Mas, à direita temos os estudantes com a mentalidade do crescimento, com a ideia de que habilidades podem ser desenvolvidas. Eles se envolvem profundamente. Seu cérebro vibra com o Ainda. Eles se envolvem profundamente. Processam o erro. Aprendem com ele e corrigem-no.
Como estamos criando nossas crianças? Estamos criando-as para o Agora, em vez do Ainda?
Será que estamos criando crianças obcecadas por nota 10? Será que estamos criando crianças que não sabem sonhar grande? Seu maior objetivo é tirar o próximo 10? E estarão elas levando essa necessidade de validação constante para suas vidas futuras? Talvez, porque empregadores chegam para mim e dizem: Nós já criamos uma geração de jovens trabalhadores que não conseguem passar o dia sem uma premiação.
Então o que podemos fazer? Como podemos criar essa ponte para o Ainda?
Eis algumas coisas que podemos fazer. Primeiro, podemos elogiar com sabedoria, não elogiar a inteligência ou o talento. Isso fracassou. Não façam mais isso. Mas elogiar o processo em que as crianças participam: Seus esforços, suas estratégias, seu foco, sua perseverança, seu aperfeiçoamento. Esse elogio do processo gera crianças destemidas e resilientes.
Há outras maneiras de recompensar o Ainda. Recentemente nos unimos a cientistas de jogos da Universidade de Washington para criar um novo jogo on-line de matemática que premiasse o Ainda. Neste jogo, estudantes eram recompensados pelo esforço, pela estratégia e pelo progresso. O jogo de matemática usual recompensa você por dar respostas certas, agora. Mas esse jogo recompensa o processo. E nós conseguimos mais esforço, mais estratégias, mais envolvimento ao longo de períodos mais longos, e mais perseverança quando eles encaravam problemas dificílimos. Nós descobrimos que as simples palavras ‘Ainda’ ou ‘Ainda não’, dão às crianças grande confiança, dão um caminho no futuro que cria grande persistência.
E podemos realmente mudar as mentalidades dos alunos. Em um estudo, nós os ensinamos que todas as vezes que é forçado a sair de sua zona de conforto para aprender algo novo e difícil, os neurônio em seu cérebro conseguem formas novas e conexões mais fortes. Com o tempo elas podem ficar mais espertas.
Vejam o que aconteceu: Neste estudo, estudantes que não aprenderam a cultivar essa mentalidade continuaram a apresentar notas cada vez mais baixas durante essa transição escolar difícil, mas aqueles que aprenderam essa lição deram um grande salto em suas notas. Nós mostramos isso agora, esse tipo de melhoria, com milhares e milhares de crianças, especialmente aquelas com dificuldades de aprender.
Então vamos falar de igualdade;
Em nosso país, há grupos de estudantes que vão mal cronicamente. Por exemplo, crianças em cidades do interior, ou crianças em reservas de nativos americanos. Elas já foram tão mal por tanto tempo, que muita gente acredita que isso é inevitável. Mas quando educadores criam classes de mentalidade de crescimento mergulhadas no Ainda, acontece a igualdade. E aqui vão alguns exemplos: Em um ano, uma classe do jardim de infância em Harlem, Nova Iorque, pontuou no 95º lugar percentil no Teste de Sucesso Nacional.(…)
Isso aconteceu porque o significado de esforço e dificuldade foi transformado. Antes, esforço e dificuldade faziam eles se sentirem burros, faziam terem vontade de desistir, mas agora, esforço e dificuldade são algo positivo. É aí que seus neurônios estão criando novas conexões, conexões mais fortes. É assim que estão ficando mais inteligentes.
Eu recebi recentemente uma carta de um menino de 13 anos. Ele dizia:
‘Querida professora Dweck, eu aprecio que a sua metodologia baseia-se em sólida pesquisa científica, e foi por isso que eu decidi pô-la em prática. Eu coloquei mais esforço no meu trabalho escolar, no meu relacionamento com a família, e no meu relacionamento com as crianças da escola. E eu já vivenciei grandes melhorias em todas essas áreas. Agora eu percebo que desperdicei a maior parte da minha vida’.
Não vamos mais desperdiçar vidas, porque uma vez que sabemos que as habilidades são capazes de tal crescimento, estimulá-las torna-se um direito básico das crianças, todas as crianças. Elas têm o direito de viver em lugares que criam esse crescimento, viver em lugares cheios de Ainda.
Obrigada”.
Carol Dweck, psicóloga americana (In transcrição feita pelo Portal Raízes do vídeo da palestra “O poder do ainda” – Vídeo abaixo. Os Direitos Autorais no Brasil são regulamentados pela Lei 9.610 . A violação destes direitos está prevista no artigo 184 do Código Penal. Este artigo pode ser publicado em outros sites, sem prévia autorização, desde que citando o autor e a fonte.
Portal Raízes
Lizanka Marinheiro Md; Phd –
Endocrinologista
Instituto Nacional de Saúde da Mulher, Criança e Adolescente Fernandes Figueira
FIOCRUZ