A cada dia surgem novas drogas para o tratamento da diabetes mellitus tipo 2, doença de alta prevalência no mundo, associada à obesidade e a hipertensão arterial, muitas vêzes em uma mesma pessoa. Novos estudos populacionais, “in vitro”, guide-lines, são feitos no intuito de melhorar a qualidade de vida das pessoas acometidas e os desfechos finais de uma doença que pode causar a cegueira, amputações de membros e insuficiência renal.
O tratamento da mesma, além de drogas, envolve a tão falada melhora na qualidade de vida, que passa por dieta e exercícios, dependendo esta também, claro dos indicadores sociais e econômicos das populações envolvidas. Novamente, a saúde e educação em pauta, dependendo diretamente também de políticas públicas justas, coerentes e eficazes, o que nem sempre temos, infelizmente. No que diz respeito aos exercícios físicos, há uma gama de modalidades. Qual a influência deles na prevenção e tratamento de doenças, como a diabetes por exemplo?
A seguir uma breve revisão recente sobre o efeito da musculação na melhora da diabetes tipo 2, feita pelo nosso consultor O Prof. Cláudio Melibeu Bentes, preparador físico da Forma, e professor da UFRJ sobre o tema.
MUSCULAÇÃO VS. DIABETES TIPO 2
O aumento da incidência de doenças arteriais coronarianas e metabólicas na população mundial vem ganhando números alarmantes. Contudo, o efeito da atividade física parece promover melhoras significativas no controle destas doenças (Silveira et al., 2014).
Ainda assim, a quantidade e qualidade do exercício físico continua sendo objeto de estudos de diversos pesquisadores. Se tratando do diabetes tipo 2, que é uma doença metabólica, causada pela resistência do organismo à insulina e/ou nenhuma produção de insulina pelo organismo (Myers et al., 2013). O American College of Sports Medicine (ACSM) e o American Diabetes Association (ADA) recomendam um gasto energético total no mínimo de 1000 kcal / semana ou 150 minutos por semana de exercício aeróbico de moderada intensidade ou 90 minutos por semana de exercício aeróbico vigoroso (Sigal et al., 2004; Colberg et al., 2010).
Em portadores do Diabetes Tipo 2 a obesidade exerce uma influência considerável na morbidade e mortalidade dos pacientes. Estima-se que cerca de 80% a 90% dos indivíduos acometidos pela doença apresentem sobrepeso e obesidade, sendo o risco de DM diretamente associado ao aumento do índice de massa corporal (IMC) (Eberly et al., 2006).
Uma das formas de prevenção, controle e tratamento do diabetes mellitus tipo 2 é o treinamento resistido, mais conhecido como musculação. Alguns estudos mostram que este tipo de treinamento exerce efeito positivo sobre o aumento da taxa metabólica basal e os níveis de leptina (Zafeiridis et al., 2003).
Recentemente, Aguiar et al. (2014) em uma meta-análise discutem e analisam a eficácia de programas de exercícios de musculação, aeróbico com uma controle alimentar em grupos de diabéticos tipo 2. Contudo, a pesquisa teve como objetivo verificar a eficácia das intervenções multidisciplinares que envolvem uma combinação destes três componentes.
Os objetivos da revisão foram de analisar o efeito multidisciplinar (dieta + exercício aeróbico + treinamento de resistência) e modificações no estilo de vida para a prevenção do diabetes tipo 2.
Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, foram elegíveis 23 artigos.
Após o tratamento estatístico os melhores resultados deste estudo mostraram que as intervenções multidisciplinares, que incluem dieta e tanto treinamento físico aeróbico e musculação são eficazes em induzir a perda de peso, controlar a glicemia em jejum e a tolerância à glicose.
Os resultados desta meta-análise suportam os das diretrizes supra mencionadas onde sugerem a inclusão de sessões de musculação para indivíduos diabéticos tipo 2, no entanto, há ainda carência de estudos que abordem a musculação para este grupo, sobretudo, estudos crônicos.
Apesar da escassez de estudos sobre musculação e diabetes tipo 2, no ponto de vista fisiológico, o treinamento resistido parece promover ganhos significativos no aumento da taxa metabólica em repouso, por conta do aumento da massa muscular livre e por conseguinte melhoras significativas na perda de peso e na qualidade das atividades diárias (capacidade funcional). Sendo assim, uma excelente forma de controlar, tratar e prevenir esta doença.
REFERÊNCIAS
1 SILVEIRA, A. P. S. et al. Acute Effects of Different Intensities of Resistance Training on Glycemic Fluctuations in Patients with Type 1 Diabetes Mellitus. Research in Sports Medicine, 2014.
2 MYERS, V. H. et al. Exercise Training and Quality of Life in Individuals With Type 2 Diabetes: A randomized controlled trial. Diabetes Care, Feb 19 2013.
3 SIGAL, R. J. et al. Physical activity/exercise and type 2 diabetes. Diabetes Care, v. 27, n. 10, p. 2518-39, Oct 2004.
4 COLBERG, S. R. et al. Exercise and type 2 diabetes: American College of Sports Medicine and the American Diabetes Association: joint position statement. Exercise and type 2 diabetes. Med Sci Sports Exerc, v. 42, n. 12, p. 2282-303, Dec 2010.
5 EBERLY, L. E. et al. Metabolic syndrome: risk factor distribution and 18-year mortality in the multiple risk factor intervention trial. Diabetes Care, v. 29, n. 1, p. 123-30, Jan 2006.
6 ZAFEIRIDIS, A. et al. Serum leptin responses after acute resistance exercise protocols. J Appl Physiol, v. 94, n. 2, p. 591-7, Feb 2003.
7 AGUIAR, E. J. et al. Efficacy of interventions that include diet, aerobic and resistance training components for type 2 diabetes prevention: a systematic review with meta-analysis. Int J Behav Nutr Phys Act, v. 11, n. 1, p. 2, 2014.
Prof. Cláudio Melibeu Bentes
Mestre em Educação Física – EEFD/UFRJ
MBA em Gestão de Academias – IBPEX
Professor Substituto – Escola de Educação Física – UFRJ
Pesquisador do Laboratório de Treinamento de Força – EEFD/UFRJ
Bolsista PET-Vsaúde – UFRJ
Licenciatura Plena em Educação Física – UNESA.
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