Mitos e verdades sobre os exercícios abdominais.
Com o objetivo de manter o corpo em forma, muitas pessoas recorrem as aulas de ginástica localizada e aos exercícios de musculação. Entre os exercícios mais populares das academias, o exercício abdominal é um dos preferidos quando o assunto é reduzir aqueles pneuzinhos indesejados. Entretanto, será que este tipo de exercício é realmente eficaz para promover a redução de gordura na região abdominal?
Vispute et al. (2011) realizaram um estudo com o objetivo de investigar o efeito do exercício abdominal na gordura abdominal. Vinte quatro indivíduos sedentários foram divididos aleatoriamente em grupo controle (sem exercício) e grupo exercício, que realizou 7 diferentes exercícios abdominais, 2 séries de 10 repetições para cada exercício, 5 vezes por semana, durante 6 semanas. Os indivíduos foram orientados a manter a alimentação regular, sem alterações. Vários índices antropométricos foram mensurados antes e após a intervenção.
Após 6 semanas de estudo, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos no peso corporal, percentual de gordura corporal, percentual de gordura androide (localizada na região do tronco), circunferência abdominal, dobra abdominal e suprailíaca. Entretanto, o grupo que realizou exercícios abdominais melhorou significamente a resistência muscular abdominal comparado ao grupo controle.
Os autores concluíram que o exercício abdominal pode ser efetivo para aumentar a força da musculatura abdominal, entretanto, não é efetivo para reduzir a gordura abdominal localizada. Para que o exercício promova uma redução no percentual de gordura corporal, é necessário que haja um balanço energético negativo crônico, através de exercícios que promovam um gasto calórico alto somado a uma dieta hipocalórica. Entretanto, a perda de gordura ocorre de maneira global, não de maneira localizada.
Outra ideia que se tem é que diferentes tipos de exercícios abdominais recrutam regiões específicas da musculatura abdominal. Por exemplo: o abdominal supra (para parte de cima do abdômen) e o abdominal infra (para região inferior do abdômen). Os estudos com eletromiografia de superfície (EMG) que avaliaram a atividade dos músculos abdominais em diversos formas de exercício abdominal não encontraram diferenças na atividade muscular do reto abdominal, oblíquos externos e internos e transverso (CLARK et al., 2003; ESCAMILLA et al., 2006).
Entre os exercícios realizados nestes estudos, aqueles realizados em superfície instável (ex: abdominal na bola) tiveram maior atividade eletromiográfica de todos os músculos abdominais em comparação com os exercícios realizados em superfície estável (ex: abdominal no solo), realizados com a mesma sobrecarga. Sendo assim, exercícios realizados em superfície instável solicitam um maior recrutamento da musculatura abdominal, sem, no entanto, promover grande compressão na coluna vertebral (VERA-GARCIA et al., 2000).
Movimentos de rotação do tronco podem levar sérios danos a coluna vertebral. Da mesma forma, exercícios abdominais realizados na amplitude total (como os abdominais utilizados nos processos seletivos das Forças Armadas) podem solicitar outras musculaturas que não sejam a abdominal para auxiliar na execução do exercício (ex: musculatura flexora do quadril), podendo levar a lombalgias. Como já visto acima, não houve diferença quanto a solicitação muscular nos diferentes tipos de exercício para musculatura abdominal. Sendo assim, os exercícios com potencial lesivo devem ser evitados, pois, além de não promoverem um benefício adicional, podem colocar em risco a integridade da coluna vertebral.
Referências:
CLARK, K. M.; HOLT, L. E.; SINYARD, J.. Electromyographic Comparison of the Upper and Lower Rectus Abdominis During Abdominal Exercises. Journal of Strength and Conditioning Research, p.475-483, 2003.
ESCAMILLA, R. F.; BABB, E.; DeWITT, R.; JEW, P.; KELLEHER, P.; BURNHAM, T.; BUSCH, J.; D’ANNA, K.; MOWBRAY, R.; IMAMURA, R. T.. Electromyographic Analysis of Traditional and Nontraditional Abdominal Exercises: Implications for Rehabilitation and Training. Physical Therapy, v. 86, N. 5, p.656-671, 2006.
VERA-GARCIA, F. J.; GRENIER, S. G.; McGILL, S. M.. Abdominal Response During Curl-ups on Both Stable and Labile Surfaces. Physical Therapy, v. 80, N. 9, p.564-569, 2000.
VISPUTE, S. S.; SMITH, J. D.; LeCHEMINANT, J. D.; HURLEY, K. S.. The Effect of Abdominal Exercise on Abdominal Fat. Journal of Strength and Conditioning Research, v. 25, N. 9, p.2559-2564, 2011.
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Wallace Machado
Personal Trainer
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