As pesquisas médicas mais recentes indicam que aproximadamente 10% da população feminina mundial apresenta lipedema, doença caracterizada pelo acúmulo anormal de tecido adiposo subcutâneo.
O lipedema está incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial de Saúde (OMS). Os principais problemas relacionados à doença são três: ela é altamente subdiagnosticada; é pouco conhecida por muitos profissionais de saúde; e seus sintomas frequentemente levam a um diagnóstico equivocado de obesidade.
A causa do lipedema ainda é desconhecida. O que se sabe é que a doença afeta principalmente pessoas do sexo feminino, iniciando-se geralmente na puberdade, mas alterações hormonais durante a gestação ou na menopausa podem exacerbar o quadro.
O lipedema se apresenta como um acúmulo de gordura acima do esperado ou um aumento de massa em certas áreas do corpo, características que às vezes o levam a ser confundido com a obesidade, mas há diferenças. Geralmente, os sintomas aparecem primeiro na parte inferior do tronco, a doença evolui com um aumento de massa bilateralmente simétrico em relação ao restante do corpo. Outra característica clínica comum, é o sinal do manguito ou coxim de gordura do lipedema observado no tornozelo. Além de uma sensação de peso, o lipedema é acompanhado pelo aumento da sensibilidade ao toque ou dor à pressão digital, também há equimoses espontâneas devido ao aumento da fragilidade capilar.
O aumento da massa de tecido adiposo (que causa dor quando a pessoa é tocada ou quando caminha ou se exercita) piora progressivamente ao longo do tempo, levando a danos permanentes e incapacitantes no sistema linfático e no sistema circulatório, resultando em outras doenças ainda mais complexas.
Embora não se saiba muito sobre as causas dessa patologia, um estudo recente sugeriu que a suscetibilidade poligênica combinada com distúrbios hormonais, microvasculares e linfáticos pode ser parcialmente responsável pelo surgimento do problema.
Ainda que não sejam a causa da doença, manter um estilo de vida sedentário ou não ter uma alimentação balanceada podem ser fatores de piora do problema.
O tratamento usual para esta doença crônica se concentra principalmente em retardar sua rápida progressão. Existem duas abordagens para o tratamento, a cirurgia, que pode eliminar os depósitos localizados de tecido adiposo do lipedema, ou o tratamento conservador, que inclui um conjunto de estratégias cujo objetivo principal é melhorar a qualidade de vida do paciente, aliviando seu desconforto e reduzindo da dor, que inclui compressão, técnicas de drenagem linfática, terapia de pressão, lipoaspiração com técnica Vaser, atividade física e uma dieta adequada.
Fonte: Kruppa P, Georgiou I, Biermann N, Prantl L, Klein-Weigel P, Ghods M. Lipedema-Pathogenesis, Diagnosis, and Treatment Options. Dtsch Arztebl Int. 2020 Jun 1;117(22-23):396-403. doi: 10.3238/arztebl.2020.0396. PMID: 32762835; PMCID: PMC7465366.
Melander C, Juuso P, Olsson M. Women’s experiences of living with lipedema. Health Care Women Int. 2022 Jan-Mar;43(1-3):54-69. doi: 10.1080/07399332.2021.1932894. Epub 2021 Jul 12. PMID: 34252343.
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Dra. Lizanka Marinheiro, Md, PhD. Médica endocrinologista, pesquisadora e professora dos programas de pós-graduação do IFF/FIOCRUZ