Há coisas que não são apenas essenciais e necessárias: são urgentes!
Vendo agora no café da manhã de domingo ao Globo Rural a seca no Cariri da Paraíba, onde há 4 anos literalmente não chove, volto a infância em Campina Grande, e ao meu pai. Um homem nascido em uma cidadezinha do Cariri chamada Juazeirinho, e que semanalmente ia à fazenda, e voltava trazendo sempre pra casa algo da agricultura de subsistência como feijão, milho, jerimum.
E eu costumeiramente ouvia naquela época de tempos idos, meu pai sempre falando em seca, em abertura de poços artesianos, de caminhões que levariam ração para o gado, falando com alguém sobre quando iria chover. E ele não era um fazendeiro. Era um médico, que gostava da terra; e como tinha mais 15 irmãos, e uma família , parte que morava na fazenda inclusive minha avó, estava indubitavelmente com raízes lá também.
Voltando a reportagem, via naqueles agricultores perdendo sua plantações de palma, pelas pragas, seu roçados pela seca, o gado pela fome, a vida pelas doenças e a paisagem seca com árvores sem o verde das folhas traduzindo a mais completa falta de esperança, me impactava a cada vez mais que a reportagem seguia.
E os depoimentos sofridos daquelas pessoas de rostos sem botox ou filtro solar, com rugas traduzindo o sofrimento da falta do mais essencial, necessário e urgente, dizendo que a renda de 500 ‘conto’, por semana, tinha sido reduzida a 200 ‘conto de réis’, pois de 20 vacas da qual eram retiradas a produção de queijo, só existiam 5. Outra sertaneja dizia que de 70, existiam nada, pela venda sucessiva suas vacas para compra de ração e agora a família subsistia com uma pequena criação de frango em parceria com o abatedouro do município local.
E seu Zé, me emocionou contando o aboio, chamando com aquela sua voz cansada e triste, numa melodia característica, sua minúscula boiada….
E eu me perguntava? E as propostas? E a solução?
Sabemos que o problema da seca no Nordeste é secular e a quem interessa, e a irrigação já teria resolvido o problema há muito tempo!
Mas e agora?
Aí vem a repórter e pergunta aos moradores locais como eles estão vivendo, e a resposta é da bolsa família e da bolsa safra, num total pouco mais de $ 500, 00 reais por mês. E em visita ao sindicato local do Município de Soledade, informam a falta de até um copo água para receber as pessoas. E a compra do milho não é mais subsidiada pelo governo e sim, pelo preço de mercado, ou seja igual ao vendido em qualquer lugar do país em qualquer estado!
A repórter se dirige ao secretário responsável em Brasília e o mesmo diz que ainda não está em pauta a discussão do milho voltar a ser subsidiado.
E eu que cada vez me questiono como médica, que vim de um estado, do qual acabo de lhes falar, de um dos problemas, e trabalho em um Instituto de medicina de ponta do Governo, responsável por muitas das políticas públicas de saúde deste país de dimensões gigantescas e características bem diferentes,o que faço como cidadã, como médica, como responsável pela formação de médicos mais jovens diante de tanta violência?
Violência esta com conceito bem maior e bem mais abrangente que as balas perdidas, roubos e assassinatos.
Violência esta diferente do bullying, que é praticado com quem tem escola para frequentar;
Violência esta diferente daquelas mulheres e crianças que sofrem agressões e maltratos pelos maridos, homens e genitores. E outros inúmeros tipos de violência que não terminaríamos aqui de listar.
Nenhuma destas violências, mas a violência dos que não tem o direito mínimo à saúde, alimentação, moradia e educação dignas. Seja no campo ou nas cidades.
E a saúde passa numa perspectiva indubitavelmente mais simples, mais barata , mais eficaz , mais rápida e mais eficiente para o estado, nas esferas primária, secundária e terciária do SUS, e privada, se for bem apresentada, bem fundamentada e principalmente bem gerida na forma de recursos, passa fundamentalmente por uma saúde preventiva.
Profissionais qualificados existem, meios modernos dentro de uma tecnologia de ponta são muito acessíveis hoje, o conhecimento e os saberes são entrelaçados e passíveis de transmissão e de replicação.
O que falta é, articulação, pesquisa, interesse, fomentos e vontade e respeito!
Lizanka Marinheiro
Profa. dos Programas de :
Pós –Graduação em Pesquisa Clínica Aplicada à Saúde da Mulher
Pós- Graduação em Saúde em da Mulher, Criança e Adolescente
Pós-Graduação em Endocrinologia Feminina
Instituto Nacional Da Criança, Mulher e Adolescente
FERNANDES FIGUEIRA-FIOCRUZ