Fast food – uma causa de obesidade

A evolução da oferta de alimentos obesogênicos

Por que a obesidade vem crescendo tanto mundialmente? Uma resposta plausível para esse questionamento seria devido a evolução. Mas quando falamos de evolução devemos lembrar também da evolução comercial, a da oferta de vários alimentos obesogênicos.

No entanto, a caminhada para a construção de um mercado de comidas hiper-palatáveis iniciou-se há muito tempo atrás. Princípios básicos do marketing de alimentos nos proporcionaram uma oferta de alimentos “deliciosos,” dos quais gostamos tanto que não queremos parar de consumi-los e assim continuamos a compra-los. É dessa maneira que o marketing e a inovação atuam de forma a atender as “demandas” do consumidor.

Parte da estratégia para o aumento de consumo é estudar o comportamento do consumidor e suas preferências. Estar sempre atento as novas tendências do mercado observando qual produto é mais apelativo e qual não é tão atraente.

Dessa maneira, surgem os novos conceitos de produtos que então são ilustrados e recebem dizeres atrativos para serem testados pelo consumidor. Essa etapa recebe o nome de teste de conceito. O primeiro obstáculo a ser transposto é o apelo ao consumo. Qual a probabilidade de um consumidor testar um novo produto? Se uma quantidade significativa de pessoas toparem testar esse novo conceito então o caminho para a próxima etapa está liberado.

O estágio seguinte é o estudo de experimento. Os consumidores que demostraram interesse pelo produto levarão o mesmo pra casa e farão um teste. Na sequência, irão reportar aos pesquisadores o que acharam e o quanto gostaram. Nessa fase, o obstáculo mais importante a ser transposto é o número de consumidores que comprariam novamente o produto e a quantidade que esperam comprar.

Através dessas estratégias os especialistas em marketing acertam em cheio, na grande maioria das vezes, os produtos que irão “voar” das prateleiras.

Uma vez no mercado os produtos mais apelativos tornam-se os mais procurados e mais vendidos. As pessoas querem comprar sempre, não por estarem “viciadas,” mas simplesmente por gostarem do que compram. Assim alguns outros produtos tornam-se enfadonhos e perdem seu lugar no mercado. Essa é a lei da sobrevivência dos mais fortes, onde a força é definida não pela dependência mas pelo maior apelo ao consumidor. Ironicamente, uma das características mais apelativas desses produtos são as inconsistentes alegações de benefícios à saúde. Frases como “faça mais uso de tal alimento” ou “os benefícios de tal nutriente, “ conduzem ao desenvolvimento de produtos que contenham o que quer que seja dito que você deve consumir. E assim institui-se o apelo ao consumo e os consumidores atendem rapidamente a esse chamado, comprando e consumindo.

Mas será que existe uma saída?

Dessa forma podemos tentar explicar a evolução de nossos produtos alimentícios como promotores da obesidade. São alimentos que apelam, mas não satisfazem. Precisamos nos preocupar em desenvolver um modelo que valorize o prazer pela qualidade da comida e não pela quantidade dos chamados “alimentos bons para você”. Não devemos nos preocupar com a produção de comidas apenas pelo custo para que essas sejam compradas em grandes quantidades, mas em fazer comidas de qualidade para que essas sejam almejadas e valorizadas de forma a serem consumidas com moderação. Isso envolve custos o que vai recair na questão econômica levando a outra discussão.

Devemos lembrar que demoramos muitos anos para evoluir para um sistema que nos atrelou ao consumo de uma mercado fast, apelativo e nada satisfatório. Da mesma maneira levaremos um certo tempo para alcançar um sistema que enfatize a qualidade, valor e satisfação. No entanto, isso é uma pretensão que deve ser seriamente considerada.

 

Dra. Laura Velloso – Médica Nutróloga 

Especialista pela ABRAN

Mestranda em Pesquisa Clínica Aplicada à Saúde da Mulher – Instituto Nacional Fernandes Figueira – 

Fiocruz

lauravellosonutrologia.com.br

Lizanka Marinheiro – Endocrinologista – FIOCRUZ