Dia do Endocrinologista – 1 de setembro
Os hormônios são substâncias responsáveis por várias funções diferentes no organismo, desde a regulação do metabolismo ao controle da pressão arterial, passando pelo desenvolvimento do mesmo e maturação dos órgãos sexuais. A quantidade e secreção destes hormônios obedece a um padrão bem definido e sua quantidade é diferente em cada fase da vida.
A busca pela beleza e pela eterna juventude, tem levado muita gente a procurar os profissionais de saúde, não só médicos, para usar hormônios, com o intuito de prolongar o curso natural da vida. Sabemos que as boas práticas médicas, são baseadas em evidências, (medicina baseada em evidências), as quais são frutos de anos de estudos clínicos e pré-clínicos. Com o avanço da tecnologia e da ciência em seus vários saberes, não se admite que se tomem condutas baseadas unicamente em experiências pessoais, de num ou outro caso, sem respaldo da documentação de resultados e seus riscos.
A endocrinologia é a especialidade médica que treina e credencia seus profissionais a diagnosticarem e tratarem as condições em que sejam necessárias se fazer o uso de hormônios.
No entanto, o que vemos hoje é a saúde vir sendo agredida em vários aspectos, muitas vezes por práticas mercantilistas e desprovidas de embasamento técnico-científico. Estamos assistindo em nossos consultórios e divulgada até na grande mídia, a um grande número de solicitações de exames inadequados, caros e desnecessários, que geram propostas e formulações de tratamentos absurdos sem nenhum respaldo científico!
Assistimos em nossas consultas, pacientes que trazem resultados de dosagens hormonais retiradas da saliva e do cabelo, e até mesmo de uma gota de sangue, coletada em consultório, na hora da consulta…. como por exemplo, dosagens de serotonina, pregnenolona, aldosterona, insulina, iodo, melatonina e outras substâncias, independentemente do sexo, idade ou queixa do paciente! Além de inúteis, essas dosagens são caríssimas, não são autorizadas pelos planos de saúde e em geral não são realizadas nos principais laboratórios de análises clínicas.
Pessoas com queixas inespecíficas, na maioria com com excesso de peso, não raro nos trazem páginas de exames com diagnósticos variados de déficit de melatonina, falta de serotonina, adrenal em falência, baixa da testosterona, baixo metabolismo etc. Há um apelo para se “tratar” a menopausa, quando se sabe que esta é a última menstruação, não se trata de uma doença, e a mulher em questão, ainda está menstruando. E o pior: com reposição de testosterona, pois “esta é a causadora de toda a sua baixa de libido”.
Pacientes já chegam aos nossos consultórios muitas vezes com implantes hormonais, sem qualquer disfunção hormonal patológica, medicadas com melatonina, iodo, suplementos diversos e, claro, testosterona.
Cursos de “nova medicina”, “modulação hormonal”, “nutroendocrinologia”, “hormônios bioidênticos” e “anti-aging”, proliferam no mercado e fazem muito sucesso atraindo profissionais que prescrevem as vezes, hormônios, sem a menor necessidade.
Como endocrinologista, e hoje 1 de setembro sendo o Dia do Endocrinologista, temos o dever e responsabilidade de alertar, tanto nossos clientes como nossos alunos, que fazer medicina, não é brincar de fazer bolo em cozinha experimental; a medicina baseada em evidências científicas, tem como objetivo trazer para a clínica do dia a dia, as práticas que envolvam os melhores cuidados em saúde, sabendo escolher os exames e procedimentos necessários e sem excesso de diagnósticos e tratamentos.
Ser médico competente é primordialmente ser honesto e ético; e por isso não complacente com uma minoria ativa, que despreza as práticas médicas adequadas em troca dos serviços “especiais”. A sociedade precisa está atenta a este tipo de apelo, e os conselhos e às agências reguladoras têm que trazer este assunto a tona, para informar e debater sobre esse tema com a sociedade.
Lizanka Marinheiro – Endocrinologista – Phd- FIOCRUZ