Estrutura do sono e a insônia durante a menopausa

Insonia durante a menopausa

Os organismos dos seres vivos funcionam através de ativações endógenas que controlam os seus ciclos biológicos. Esses ciclos permitem o controle e manutenção de funções vitais como o sono e o apetite. O ciclo vigília-sono tem a periodicidade de 24 horas e recebe o nome de ciclo circadiano (que significa cerca de um dia). A estrutura neuroendócrina responsável por regular o funcionamento do ritmo circadiano está localizada no encéfalo e atua como um temporizador circadiano endógeno, respondendo ao estímulo luminoso proveniente das retinas. Quando a luminosidade do ambiente é alta a produção de melatonina (hormônio importante para a indução do sono) é inibida, com a diminuição da luminosidade a produção de melatonina é estimulada. Alguns conjuntos de neurônios também atuam de forma sistêmica durante o sono empenhando os neurotransmissores que permitem a execução adequada do ciclo do sono. Os neurônios noradrenérgicos, são o conjunto mais numeroso, responsáveis por controlar o nível de consciência do indivíduo, diminuir o tônus muscular durante o sono e modular regiões do hipotálamo encarregadas do controle cardiovascular e neuroendócrino. Os neurônios serotoninérgicos apresentam frequências de disparos durante a vigília e estão associados ao sistema gerador de sono. Os neurônios dopaminérgicos desempenham papel importante no alerta comportamental durante a vigília e na atividade locomotora, apresentam um padrão de disparos durante o sono, e são considerados importantes na geração do sono REM.

O sono é dividido em etapas chamadas de estágio 1 (essa etapa acontece uma única vez logo após o adormecer), estágio 2 (transitório entre o sono Rem e os estágios de ondas lentas), 3 e 4 (conhecidos como fases de ondas lentas) e estágio paradoxal (conhecido também como sono REM – “Rapid Eye Movement” ou movimento rápido dos olhos), cada estágio é marcado por diferentes padrões de ondas medidas através de exames de eletroencefalograma. A duração de cada estágio de sono varia de forma normal ao longo da vida, o bebê recém-nascido dorme cerca de 18 horas por dia, alternando estado de sono e vigília em ciclos de 3 a 4 horas, e apresenta 50% do tempo total de sono em sono REM. Os primeiros fusos de sono começam a aparecer entre o 3º e o 6º mês de vida e se encontram completamente desenvolvidos aos 2 anos de idade, quando apresenta maiores períodos de sono noturno. O sono REM diminui para um total de 40% na pré-adolescência o período de vigília é máximo e a necessidade de soneca diurna muito rara. Os ciclos de sono aumentam lentamente até atingirem os cerca de 90 minutos de um adulto. Após isso a quantidade de sono REM vai diminuindo gradualmente até atingir cerca de 25%. No envelhecimento saudável são observadas comumente alteração no sono como: redução da eficiência do sono, aumento da latência do sono, aumento da proporção de estágios 1 e 2, redução na porcentagem do sono de ondas lentas, e alteração do ciclo circadiano.

O sono parece ter papel fundamental na homeostase do organismo inteiro, pois estudos com animais demonstram que a ausência de sono por mais de 10 dias é incompatível com a vida. Estudos em humanos, com privação de sono menos prolongada, apontam alteração na neurotransmissão central com consequências na alteração do humor e da cognição, o encurtamento crônico do tempo total de sono também pode acarretar aumento de peso corporal. Em indivíduos saudáveis é possível repor até dois períodos de sono normal, entretanto para cada noite de sono perdida podem ser necessárias até duas noites de rebote de sono. O sono de ondas lentas tende a aumentar após a prática de exercício físico, sugerindo um papel restaurador físico, as áreas relacionadas ao sono de ondas lentas também estão envolvidas na regulação da temperatura corporal, dos processos autonômicos e do apetite. O sono REM pode aumentar depois de intensa atividade mental, sugerindo seu papel no processo de aprendizagem e memória.

A alteração de sono mais comum é a insônia, caracterizada como a dificuldade de iniciar ou manter o sono, e traz como consequência um sono não reparador. Pode comprometer o desempenho das atividades diurnas e ter diversas causas como: transtornos do sono (Distúrbios de movimento; Apnéia obstrutiva do sono; Síndrome do aumento da resistência das vias aéreas superiores e Parassonias); fatores ambientais; quase todos os transtornos psiquiátricos com maior frequência nos transtornos de ansiedade e de humor; doenças neurológicas; doenças da tireóide; doenças respiratórias; doença do refluxo gastroesofágico; uso de substâncias estimulantes; alguns anti-depressivos e anti-hipertensivos; transtornos do ritmo circadiano associados a questões sociais; e insônia psicofisiológica primária, mais comum em mulheres de meia idade caracterizada pelo aumento condicionado do despertar ao se deitar e a dificuldade para dormir. Durante o período da menopausa muitas mulheres apresentam mudanças psicológicas e biológicas intensas e as dificuldades do sono aparecem como uma das principais queixas, principalmente o despertar noturno, essa queixa parece estar relacionada aos sintomas vasomotores da menopausa, principalmente os fogachos, associados à interrupção do sono, contudo a etiologia da insônia durante o climatério é atravessada por diversos fatores físicos, psicológicos e socioemocionais, de modo que para um diagnóstico e tratamentos mais preciso e eficaz é necessário o atendimento individualizado.

Fontes:

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Tufik, Sérgio. Medicina e biologia do sono/ Sergio Tufik. – Barueri, SP. Manole, 2008.

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Schmidt, R. F. Neurofisiologia/ R. F. Schmidt, J. Dudel, W. Janig, M. Zimmermann. São Paulo: E.P.U – Springer – EDUSP, 1979.

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Vanessa Soares. Aluna de Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Pesquisa Aplicada à Saúde da Criança e da Mulher.

Orientadora: Professora Drª Lizanka Marinheiro.