Esporte como ferramenta para o controle emocional
Resiliência é um termo adaptado da física que representa uma habilidade de pessoal de se adaptar com sucesso ao estresse agudo ou crônico. Sujeitos resilientes apresentam maior controle do humor, comportamento, cognição e maiores características de coping, como solucionar, resolver problemas e enfrentar seus medos. Apesar de a resiliência estar associada a fatores genéticos, ela pode ser modificada por fatores como o ambiente e intervenções específicas, como a terapia cognitivo comportamental e o esporte.
Um estudo brasileiro avaliou 62 indivíduos, dos quais 17 eram ex-atletas de ginástica olímpica, outros 15 ex-atletas de outras modalidades e 30 eram indivíduos que não foram atletas. Todos os sujeitos participaram de uma entrevista pessoal composta por uma anamnese estruturada e escalas de depressão (Inventário de Depressão de Beck – IDB), ansiedade (Inventário de Ansiedade Traço-Estado – IATE), resiliência (Escala de Resiliência) e qualidade de vida (SF-36®).
Os autores observaram que indivíduos que foram atletas apresentaram maior resiliência, estado geral de saúde, aspectos emocionais e menor ansiedade comprados com indivíduos não atletas. Uma possível explicação para esse achado seria que a resiliência no atleta pode estar associada à sua capacidade de enfrentar problemas e procurar um suporte social, já que atletas de alto rendimento precisam estar preparados para responder aos desafios e níveis de exigência do esporte, incluindo competições e lesões. Nesse sentido, assim como todas as experiências vivenciadas na infância e na juventude podem influenciar nas características comportamentais na fase adulta, o esporte de alto nível pode ser um fator do estilo de vida que poderia contribuir para um perfil mais resiliente. Entretanto, a relação de causa e efeito entre a prática de esportes e o perfil resiliente não pode ser determinada neste estudo.
Tanto as experiências no esporte podem contribuir para o aumento da resiliência quanto um perfil resiliente poderia influenciar em um maior desempenho no esporte. Fatores como os resultados alcançados nas competições, tipo de modalidade praticada e suporte social também podem influenciar a resiliência na fase adulta.
Evidências mostram que, mesmo após o afastamento dos treinos e competições, os aspectos físicos de ex-atletas são influenciados pela reserva funcional, adquirida no período de treinamento. Essa reserva proporciona uma melhor capacidade física e um melhor estado geral de saúde aos ex-atletas comparados aos sujeitos que nunca praticaram exercício físico.
Possíveis explicações para os resultados observados no presente estudo seriam alterações neurofisiológicas promovidas pela prática de exercícios, incluindo o aumento da liberação de fatores neurotróficos do cérebro, indução de processos pró-inflamatórios favoráveis à neurogênese e modulações de neurotransmissores. Todas essas alterações podem contribuir para uma reserva vascular e neurobiológica associada a melhores respostas comportamentais e cognitivas dos praticantes de exercício e esporte. Alguns mecanismos de alterações neurobiológicas associados a sujeitos resilientes já foram postulados na literatura, como a possibilidade de uma maior ativação da via mesolímbica dopaminérgica, relacionada a mecanismos de recompensa. Além disso, emoções e humor positivos dão abertura à procura de suporte social, auxiliando na flexibilidade e exploração da maneira de pensar mediante os eventos indesejáveis do cotidiano. Por outro lado, a inatividade física contribui para o desenvolvimento de doenças crônicas, as quais estão associadas com o humor negativo e menor saúde mental.
Referência:
CEVADA, T.; CERQUEIRA, L. S.; MORAES, H. S.; SANTOS, T. M.; POMPEU, F. A. M. S.; DESLANDES, A. C.. Relação entre esporte, resiliência, qualidade de vida e ansiedade. Rev Psiq Clin. p: 85-89, 2012.
Mente sã e corpo são.
Wallace Machado
Personal Trainer