O Diabetes mellitus gestacional é definido como o início ou primeiro diagnóstico de intolerância ao carboidrato durante a gravidez, que gera resultados perinatais associados: crescimento fetal excessivo (que pode levar a trauma fetal ou materno, no parto), distúrbios hipertensivos da gravidez e hipoglicemia neonatal. O tratamento de mulheres com diabetes gestacional pode reduzir muitos esses resultados, e a prevenção é beneficiada pela aplicação rotineira de testes de rastreio para detecção do diabetes gestacional. Contudo, ainda não há claro consenso sobre a melhor abordagem técnica de testagem.
A abordagem tradicional é realizada em duas etapas, e é feita uma triagem com todas as grávidas que não receberam previamente um diagnóstico de diabetes: o nível de glicose no sangue, sem jejum, é medido 1 hora após a administração oral de 50g de glicose, se o resultado da triagem exceder uma concentração predeterminada de glicose no sangue; é aplicada a segunda etapa: em jejum, é administrada carga oral de 100g de glicose, após 3 horas, se os valores do teste de tolerância à glicose excederem os valores limites estabelecidos, o diagnóstico de diabetes gestacional está confirmado. Esta é a abordagem defendida atualmente pelo American College of Obstetricians and Gynecologists. A abordagem mais recente, que está sendo defendida pela International Association of the Diabetes and Pregnancy Study Groups (IADPSG), consiste em uma etapa única: os níveis de glicose no plasma são medidos 2 horas após a administração 75g de glicose, por via oral e em jejum. A estimativa do IADPSG é de que a adoção da segunda abordagem pode duplicar, ou até triplicar, a incidência nos diagnósticos de diabetes gestacional.
Neste começo de 2021, foi publicado pelo New England Journal of Medicine, um amplo ensaio clínico que rastreou quase 24.000 mulheres grávidas. As gestantes foram submetidas à randomização e divididas em dois grupos, para o primeiro grupo foi administrada a abordagem tradicional de duas etapas e para o segundo grupo foi administrada a abordagem de etapa única. Os resultados primários incluíram: o diagnóstico de diabetes gestacional; crescimento fetal excessivo para a idade gestacional; parto cesáreo; hipertensão gestacional ou pré-eclâmpsia; e um resultado perinatal composto que incluiu medidas de trauma no nascimento e morte perinatal. As estimativas do IADPSG se provaram consistentes, a incidência do diagnóstico de diabetes gestacional foi quase duas vezes maior entre mulheres que foram aleatoriamente designadas para teste de etapa única. No entanto, as incidências dos demais resultados não foram materialmente diferentes entre os grupos de teste. As diretrizes de tratamento para diabetes gestacional foram consistentes, independentemente da abordagem diagnóstica utilizada.
No pré- natal, com certeza seu médico avaliará se você tem ou diabetes gestacional, sabendo pedir os exames necessários.
Se cuide!
Lizanka Marinheiro, Md, PhD.
Endocrinologista – Instituto Fernandes Figueira
FIOCRUZ
Fonte:
Casey, B. Gestational Diabetes — On Broadening the Diagnosis. n engl j med 384;10. March 11, 2021. DOI: 10.1056/NEJMe2100902