A importância do padrão alimentar para a saúde
Os nutrientes individuais costumam ser o foco das pesquisas que buscam estabelecer associações entre dieta e saúde. Contudo, os principais nutrientes coexistem em muitos alimentos comuns, e os seus efeitos combinados podem gerar doenças cardiovasculares e mortalidade por muitas outras causas. Com o objetivo de identificar padrões alimentares e suas associações com doenças cardiovasculares e mortalidade em geral, foi realizado um estudo no Reino Unido que investigou os padrões dietéticos de mais de 100 mil pessoas com idades entre 37 e 73 anos. Ao longo de uma média de 4,9 anos de acompanhamento, ocorreram 4245 casos de doenças cardiovasculares, 838 casos de morte por doença cardiovascular e 3629 casos de mortes por outras causas associadas. Foi possível identificar 2 padrões dietéticos principais, baseados em alimentos que propiciam uma ingestão excessiva de energia e causaram, em conjunto, 63% da variação na densidade de energia, açúcares livres, gordura saturada e ingestão total de fibras.
O primeiro padrão alimentar foi considerado o principal pelo estudo, neste padrão foram consumidas cargas consideráveis de chocolate; produtos de confeitaria; manteiga e outras pastas de gordura animal (principalmente manteiga) e pães com baixo teor de fibra. Os alimentos menos consumidos foram as frutas frescas, vegetais e cereais matinais ricos em fibras. Esse padrão foi significativamente associado ao aumento de doença cardiovascular e mortalidade por diversas causas. Além disso, esse padrão também foi potencialmente associado ao excesso de peso. Este resultado parece confirmar estudos anteriores que relataram padrões dietéticos “ocidentais” e os benefícios das dietas “mediterrâneas”.
O segundo padrão alimentar foi caracterizado por consumo considerável de bebidas adoçadas com açúcar; suco de frutas; chocolate; confeitaria; açúcar de mesa e conservas. Entre alimentos menos consumidos estavam queijo e manteiga com alto teor de gordura. Este padrão foi mais incomum e está relacionado à maior ingestão de açúcares, aumentando o risco de doenças cardiovasculares e mortalidade. O consumo médio foi de 17,3% da energia dietética de açúcares livres, mais de três vezes a diretriz dietética do Reino Unido.
Esta análise mostra que dietas ricas em confeitos de chocolate, manteiga, pão refinado e açúcar de mesa e conservas, juntamente com baixa ingestão de frutas frescas, vegetais e alimentos integrais, estão associadas a um risco aumentado de doença cardiovascular e morte, além de ter relação com o excesso de peso, no caso do primeiro padrão alimentar. Também sugere que dietas particularmente ricas em bebidas adoçadas com açúcar, suco de frutas, açúcar de mesa e conservas podem ser um fator de risco independente para mortalidade prematura. Ou seja, confirma mais uma vez estudos anteriores que ressaltam a importância de uma alimentação equilibrada e com pouco açúcar e gordura!!
Lizanka Marinheiro, Md, Phd
Endocrinologista – Instituto Nacional de Saúde Fernandes da Mulher, Criança e Adolescente – FERNANDES FIGUEIRA
FIOCRUZ
Fonte:
Gao, M., Jebb, S.A., Aveyard, P. et al. Associations between dietary patterns and the incidence of total and fatal cardiovascular disease and all-cause mortality in 116,806 individuals from the UK Biobank: a prospective cohort study. BMC Med 19, 83 (2021). https://doi.org/10.1186/s12916-021-01958-x