O imediatismo e a busca por resultados rápidos, eficientes e excelentes são a tônica do nosso tempo.
Não poderia deixar de ser em nossos consultórios, quando somos abordados diariamente por inúmeros pacientes com sobrepeso, obesos, obesos mórbidos muitas vezes já com suas com suas complicações características decorrentes como diabetes, hipertensão aumento das taxas de colesterol e triglicerídeos, quererem uma opinião sobre os métodos mais radicais como a cirurgia bariátrica ou colocação de balão intra-gástrico.O desejo além de perder peso imediatamente” sem esforço”, vai também da vontade de querer diminuir o número de medicações muitas vezes usadas por estes pacientes para as doenças que eles já possuem, e assim reduzirem os custos com medicamentos, efeitos colaterais, e claro o milagre do emagrecimento rápido! Não importa…se há indicação ou não do procedimento cirúrgico, o que o paciente quer muitas vezes É : operar e ter resultados, rápidos e eficazes.
Recentemente, aconteceu importante congresso europeu onde um trabalho com um número bastante representativo de pacientes foi estudado, justamente para avaliar se , os benefícios da cirurgia bariátrica iriam além da perda de peso. É isso que vou comentar para vocês abaixo.
Cirurgia bariátrica, perda de peso e benefícios metabólicos para o paciente: existem?
No 15th European Congress of Endocrinology ocorrido entre 5 a 9 de maio de 2012 na Itália, este tema foi discutido.
Os benefícios metabólicos da cirurgia usando a técnica de bypass gástrico, além da perda de peso, foi um tema abordado por pesquisadores do National Institute for Health and Welfare, na Finlândia, e da University of Gothenburg, na Suécia, que buscaram avaliar os efeitos da cirurgia de bypass gástrico nos níveis de glicose e insulina e na perda de peso em um período de acompanhamento de dez anos.
O estudo envolveu 2010 indivíduos obesos que foram submetidos a cirurgias bariátricas, sendo 376 à cirurgia do tipo não-ajustável ou bandagem ajustável, 1369 à gastroplastia vertical (VBG), e 265 a bypass gástrico (GBP).
Exames de saúde com medidas antropométricas e exames laboratoriais foram realizados no início do estudo e em um período de dois a dez anos. A taxa de acompanhamento foi de 92% e 74% a dois e dez anos, respectivamente.
O diabetes foi definido pelo índice de glicose em jejum obtido no sangue venoso (6,1 mmol / litro ou mais) e/ou auto-referida por medicação de diabetes.
A perda de peso foi categorizada em quatro grupos: mais de 30 kg; 30 a 25 kg; 25 a 20 kg; 20 a 15 kg. Alterações na glicemia e nos níveis séricos de insulina foram comparadas entre os três grupos cirúrgicos (bandagem, VBG e GBP). Os dados foram analisados separadamente para pessoas com e sem diabetes no período basal.
Os resultados das análises mostraram que a perda de peso de dez anos foi de 18 kg, 20 kg e 29 kg nos grupos de bandagem, VBG e GBP, respectivamente (P<0,001).
Alterações na glicemia de jejum e insulina foram relacionadas ao grau de perda de peso. Não foram observadas diferenças significativas nas alterações da glicose e insulina entre os três grupos cirúrgicos quando pacientes dentro das mesmas categorias de perda de peso foram comparados.
O mesmo foi observado em pacientes com e sem diabetes no período basal. Como esperado, as mudanças nos níveis de glicose e insulina foram mais acentuadas em pacientes com diabetes no início do estudo do que em pacientes sem a doença.
Com base nesses resultados, os pesquisadores concluíram que, dado o mesmo grau de perda de peso ao longo de dez anos após a cirurgia bariátrica, não há dados que sustentem os benefícios da perda de peso por bandagem, GBP e VGB na glicemia de jejum e níveis de insulina
Fonte: 15º Congresso Europeu de Endocrinologia, 5 e 9 de maio de 2012, Florença, Itália.
Lizanka Marinheiro
Chefe da Endocrinologia do Instituto Nacional de Saúde da Mulher Criança e Adolescente -Instituto Fernandes Figueira IFF
FIOCRUZ