Câncer de mama: existe método ideal pra detecção precoce?
Uma recomendação da Comissão Nacional de Mamografia
No Instituto Nacional da Saúde da Mulher Criança e Adolescente Fernandes Figueira , da FIOCRUZ, desenvolvemos pesquisas na área de câncer de mama, dentro de uma abordagem não só de tratamento, mas de detecção precoce e rastreamento. Existem linhas de pesquisas envolvendo genética e câncer de mama,este e suas relações com a deficiência de vitamina D, com a Síndrome Metabólica e obesidade, e com outros fatores causais determinantes. Neste post, abordaremos um tema de fundamental importância: o rastreamento e detecção precoce, começando assim, uma série sobre vários posts sobre este importante tema sobre a saúde da mulher!
O câncer de mama é tema que assusta cada vez mais a população feminina de nosso país e de todo mundo. Embora também possa ocorrer em homens, é muito mais comum em mulheres, principalmente acima de 50 anos (2/3 dos casos). No Brasil estima-se que em 2012 tenham ocorrido mais de 52 mil novos casos, com risco estimado de 52 casos/100.000 mulheres. Este risco apresenta grande variação de acordo com a região do País, sendo mais prevalente no sul e sudeste.
Embora o câncer de mama seja principal causa de morte por câncer entre as mulheres no Brasil e no mundo, é o tipo de câncer que mais apresenta evidências científicas sobre o papel do diagnostico precoce na redução da mortalidade (até 30%). Desta forma, seu rastreamento tem por objetivo a detecção de pequenos tumores assintomáticos, e, consequentemente, possibilidade de tratamento precoce com redução da mortalidade pela doença. Também pode aumentar a sobrevida e permitir cirurgias menos mutiladoras.
Atualmente, a mamografia é o único método de rastreamento que demonstrou ser capaz de promover uma redução da mortalidade. Embora possa ser realizada em aparelho convencional, o digital parece ser superior na detecção de alterações em mamas densas ou heterogêneas. O ultrassom e a ressonância também podem detectar o câncer de mama inicial, entretanto não há estudos científicos que avaliado um efeito positivo destes exames na redução da mortalidade, devendo ser realizada apenas em casos específicos.
O ultrassom não é apropriado como método de rastreamento inicial, principalmente pela sua limitação em avaliar as microcalcificações, mas pode ser útil em casos de mamas densas. Já a ressonância apresenta maior sensibilidade na detecção do câncer de mama (que pode ser de 100% se realizada em serviços de reconhecida qualidade técnica). Nas pacientes com alto risco para câncer de mama que foram rastreadas por ressonância além de mamografia e ultrassom, houve um aumento de sensibilidade de 44%. Embora ainda não existam estudos demonstrando redução na mortalidade com este método, a recomendação atual é que a ressonância magnética de mamas seja feita em conjunto com a mamografia no rastreamento das pacientes de alto risco. Embora promissora, a tomossíntese não é recomendada para rastreio por falta de evidencias até o momento.
No Brasil, uma lei assinada em 2010 garante o acesso à mamografia a todas as mulheres acima de 40 anos. Estudos sugerem que se todas as mulheres com 40 anos ou mais fossem submetidas a rastreamento mamográfico, a taxa de morte relacionada com a doença poderia cair aproximadamente 50%.
É importante ressaltar que a taxa de mortalidade pelo câncer de mama é bastante diferente entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Nos últimos anos houve redução da mortalidade nos países desenvolvidos enquanto nos países em desenvolvimento (dentre eles o Brasil) observou-se estabilidade ou mesmo contínuo aumento. Esta diferença pode ser atribuída às diferenças nas políticas de detecção precoce, à dificuldade de acesso e de tratamento adequado nestes últimos.
Com objetivo de uniformizar condutas diagnósticas visando o bem-estar do paciente, criou-se no Brasil a Comissão Nacional de Mamografia, formada pelo Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), com as seguintes diretrizes expostas sucintamente:
RECOMENDAÇÕES PARA O RASTREAMENTO DO CÂNCER DE MAMA
Mulheres abaixo de 40 anos: não se recomenda a realização de mamografia, ultrassom ou ressonância magnética, exceto em casos individualizados (como, por exemplo, mulheres de alto risco para desenvolvimento da doença).
Mulheres entre 40 e 69 anos: recomenda-se mamografia anual. Ultrassom e/ou ressonância magnética não são recomendados, exceto em casos individualizados.
Mulheres acima de 70 anos: recomenda-se mamografia anual de forma individualizada.
Para maiores detalhes, consulte na integra: Radiol Bras. 2012 Nov/Dez;45(6):334–339.
Dra Patrícia Oliveira – Médica ginecologista e obstetra.
Doutora em Saúde da Mulher pela Fiocruz/RJ
Prof.Dra.Lizanka Marinheiro
Prof. Pós-Graduação em Saúde da Mulher e da Criança e em Medicina Clínica Aplicada
IFF-FIOCRUZ