Como várias outras doenças de grande prevalência, a Doença de Alzheimer ainda não tem causa bem estabelecida nem cura, afetando milhões de pessoas no mundo, e suas famílias. Este artigo publicado recentemente aponta uma possível relação de causa e efeito entre a mesma e os traumatismos cranianos, por menores que sejam.
Estudo recente publicado agora em 3 de fevereiro pela conceituada Revista NEUROLOGY, relaciona que pequenos traumas cerebrais podem levar, ainda que tardiamente, ao aparecimento de placas amilódes semelhantes as que aparecem no cérebro de pessoas com Doença de Alzheimer.
Outras pesquisas anteriores relacionando pequenos traumatismos cerebrais e depósitos de placas amilóide a um maior risco de demência, já vinham sendo realizadas principalmente em maiores de 90 anos.
O aparecimento das placas amilóide entre os espaços interneurais, é a principal característica da Doença de Alzheimer.
A cada dia surgem mais evidências que traumas cerebrais ainda que pequenos, podem desencadear a doença, podendo estes, ao longo do tempo, levar a processos de demência. O diagnóstico precoce dos mesmos é importe para que se consiga tratá-los numa janela de oportunidade, de forma mais preventiva e efetiva com qualidade.
Pesquisas adicionais precisam ser feitas como intuito de entender a causa do depósito a logo prazo da substancia amilóide, e a persistência de inflamação no cérebro e consequentemente se desenvolver tratamentos mais eficazes, diz o autor e estudo, o Prof. David Sharp, pesquisador do National Institute for Health Research , e professor no Imperial College London.
O estudo publicado agora em 10 de fevereiro diz que a Doença de Alzheimer afetou mais de 5 milhões de pessoas nos EUA em 2015 de acordo com Associação Americana de Alzheimer.
De outro pado, a taxa de traumatismos cranianos que deram entrada nas emergências americanas chegaram a mais de 70% na última década, e de acordo com o editorial cerca de 3 a 5 milhões de americanos estão vivendo com alguma forma de deficiência relacionada com algum trauma cerebral prévio, segundo os editorialistas Ansgar Furst da Universidade de Standfort e Erin Bigler da Universidade de Brigham.
Os autores do estudo em questão, incluiram 28 participantes no estudo. 9 tinham passado de algum tipo de traumatismo craniano, 9 eram saudáveis e 10 tinham Doença de Alzheimer. A idade média dos que apresentavam traumatismo era de 44 anos e a idade média dos outros dois grupos era de 64 anos. Os 9 com algum tipo de traumatismo craniano tiveram um outro traumatismo entre 11 mêses e 17 anos, antes de começar a pesquisa.
Todos os participantes realizaram PAT scan (marcador para detectar placas amilóides no cérebro), e Ressonância nuclear Magnética .
Os pacientes com Alzheimer e traumatismos cranianos apresentavam mais placas amilóides no córtex posterior, que é a área acometida mais cedo pela doença de Alzheimer.
Mas apenas os pacientes que tiveram algum tipo de traumatismo cerebral, apresentavam placas amilóides no cerebelo, importante área no controle motor cerebral.
A grande conclusão dos pesquisadores foi de que, os participantes que tinham e apresentavam maiores danos cerebrais, foram aqueles que tinham maiores números de fibras acometidas e um maior depóstio de fibras amilóides.
A surpresa também foi encontrar depósito de substancia amilóide no cerebelo, uma área do cérebro, usualmente não afetada na doença de Alzeihmer, sugerindo que os processos que produzem as substâncias amilóide no cérebro na doença, não são os mesmos .
Um estudo recente publicado em janeiro com animais na Universidade do Texas, identificou uma forma de proteína tóxica denominada TAU, que aumenta depois de um traumatismo craniano, podendo contribuir para o aparecimento de demência.
Os autores admitem que apesar de serem estudos ainda pequenos, acrescentam algo ao conhecimento da relação entre as injúrias cerebrais e e a doença de Alzheimer.
Assim como a encefalopatia traumática, condição que apresenta placas amilóides, novas pesquisas tem chamado muito atenção como as feitas em autópsias de jogadores aposentados da Liga Nacional de Jogadores de Futebol Americano, entre 90 e 94 anos que apresentaram algum tipo de injúria no decorrer de suas carreiras. Autópsias realizadas diagnosticaram a doença somente após a morte. Abre-se a discussão para um grande leque de injúrias cerebrais que acontece no dia a dia principalmente nos esportes como as concussões cerebrais e outros traumatismo cerebrais leves. Uma única e severa concussão cerebral, não é a mesma coisa que um traumatismo craniano grave, no entanto elas tem similaridades, dizem os autores, e novos estudos de correlação com leves traumatismos e suas repercussões no desenvolvimento na doença de Alzheimer devem ser conduzidos para se chegar a uma relação de causa e efeito e se iniciar um diagnostico e tratamentos precoce.
Lizanka Marinheiro PhD
Profa. Pós-Graduação em Pesquisa Clínica Aplicada em Saúde da Mulher e em Saúde da Mulher
Instituto Fernandes Figueira -FIOCRUZ
FONTE: David Sharp, Ph.D., National Institute for Health Research, professor, Imperial College London, United Kingdom; Keith Fargo, Ph.D., director, scientific programs and outreach, Alzheimer’s Association, Chicago; Feb. 3, 2016, Neurology, online
HealthDay