A obesidade em todo o mundo é um problema crescente e estamos no meio de uma epidemia. Se você olhar para a literatura médica, a resposta é que o problema está nos nossos genes. No entanto, um artigo foi publicado recentemente no British Medical Journal, onde pesquisadores da Universidade de Cambridge queriam saber quantas lojas de fast-food estão em Cambridgeshire, no condado que inclui Cambridge e a universidade. Eles também analisaram onde as pessoas se deslocavam para o trabalho e se havia alguma associação entre ir por esses locais que tem lojas de fast-food com obesidade e diabetes.
E adivinha o que eles encontraram? Existe uma correlação entre lojas de fast-food e ser diabético ou ser obeso. O ponto é que os genes certamente desempenham um papel na forma como as pessoas lidam com os alimentos, mas se você vive em uma cultura que lhe oprime de oportunidades para comer junk food e alimentos gordurosos, mesmo os melhores genes podem facilmente ser oprimidos.
Então, temos que parar de dizer: “Tudo que você tem a fazer é controlar a sua dieta, e de alguma forma gerir a responsabilidade de que seus genes lhe deram”. Dizer às pessoas que têm uma base genética para a obesidade é uma espécie de desculpa ou um caminho mais fácil. Devemos começar a dizer: “Ei, esses lugares são perigosos para você. Você deve evitá- los.” Devemos também pensar em dizer aos nossos pacientes que um monte de promoção de fast-food está levando a diversos problemas de saúde, como a obesidade, também infantil, além de hipertensão arterial e diabetes mellitus. Dessa forma, não vamos colocar a culpa em nossos genes. É preciso perceber que, em um mundo em que a tentação é colocar para fora tudo o que nos rodeia, isso é um problema que temos de discutir com os pacientes também.
No Brasil, depois de oito anos em ascensão, a obesidade pela primeira vez, parou de crescer. Os dados fazem parte da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), apresentada pelo Ministério da Saúde. A pesquisa ouviu cerca de 23 mil brasileiros maiores de 18 anos que vivem nas 26 capitais do país e no Distrito Federal. Apesar da estabilização do índice, o estudo aponta que 50,8% dos brasileiros estão acima do peso ideal – destes, 17,5% são obesos. Na primeira edição da Vigitel, a proporção de pessoas acima do peso era de 42,6% e a de obesos era de 11,8%. Apesar dos avanços, os dados mostram a existência de diversos hábitos alimentares inapropriados, como o índice de brasileiros que substituem o almoço ou o jantar por um lanche de baixo valor nutritivo, como uma pizza ou um sanduíche. O índice registrado foi de 16,5%, sendo 12,6% dos homens e 19,7% das mulheres. Outro indicador que preocupa é o consumo excessivo de gordura saturada.
Ao todo, 31% dos entrevistados não dispensam a carne gordurosa e mais da metade (53,3%) consome leite integral regularmente. O consumo de refrigerantes também registrou altos índices: 23,3% da população ingere a bebida pelo menos cinco dias da semana. Vale lembrar que a pesquisa é feita por telefone e as pessoas costumam subestimar seu peso, o que significa que este número deve ser mais alto do que o levantamento aponta.
Segundo a pesquisa do Vigitel, o índice de pessoas que sofrem de hipertensão arterial também se manteve estável: 24,1% da população brasileira tem a doença. As mulheres registram a maior incidência da doença do que os homens. Elas, com 26,3%, e eles, com 21,5%. De acordo com a pesquisa, houve uma alta no percentual de pessoas diagnosticadas com diabetes. A tendência é de crescimento desde a primeira edição do Vigitel. O índice da doença também é maior entre as mulheres, com 7,2%. Já os homens o percentual é de 6,5%. Pessoas entre 18 e 24 registram o percentual de 3,0% nos casos de hipertensão e de diabetes 0,8%. No entanto, a prevalência das doenças entre pessoas acima dos 65 anos é de 60,4% para hipertensão e 22,1% para diabetes.
Dessa forma, a obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública mundial. E o melhor meio de combate é a prevenção através de uma reeducação alimentar com orientação nutricional aliada à mudança de estilo de vida, como prática de atividade física. Procure um nutricionista! Movimente-se! Cuide-se!
Danyelle de Almeida Ventura
Nutricionista
Mestre em Ciências na área de concentração da Saúde da criança e da mulher pelo Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira da Fundação Oswaldo Cruz (IFF/FIOCRUZ)