Hoje notamos que a sociedade atual tem a marca registrada dos excessos e podemos entender algumas patologias como um reflexo desta tendência. Dentre elas destaca-se a compulsão, mas especificamente a compulsão por exercícios. Observamos que na atualidade alguns indivíduos encontram uma grande dificuldade em lidar com os limites de uma forma geral.É muito comum os exageros serem utilizados para disfarçar minúcias que não se quer mostrar e das quais não se pode falar. A questão central é que nesta forma de compulsão, o corpo vira o porta- voz da expressão de conflitos.
A prática de exercícios físicos é bastante divulgada como uma atividade necessária que visa o bem estar físico e psicológico de quem pratica. Vemos também o aumento de pessoas praticando atividades nas ruas e academias, o rápido crescimento do número de provas de rua de corridas e outras modalidades, sendo estas predominantemente aeróbicas, tais como a própria corrida, o ciclismo e outras modalidades mistas. A competitividade muitas vezes envolvida nestas práticas excessivas poderia estar também relacionadas a este comportamento compulsivo. Mas uma questão nos chama atenção, pois em alguns casos, em determinadas pessoas, a prática passa a ser a atividade principal de suas rotinas, podendo, em alguns casos, gerar um comportamento compulsivo e que pode vir a se tornar uma dependência, com todos os prejuízos que esta acarreta na vida dessas pessoas. Vemos também uma possível associação destas práticas excessivas a transtornos alimentares, principalmente nas mulheres.
Em que ponto o exercício físico passa a ser um comportamento compulsivo? Qual o volume de treino e de horas dedicadas a esta prática que ultrapassa a faixa da normalidade e da saúde e passa a “preencher”de uma forma obsessiva, a vida dessas pessoas? Um indicativo seriam os prejuízos psicológicos e sociais que uma prática intensa podem acarretar, tais como a perda de convívio social com a família e amigos,assim como o treinamento sempre aparecendo como atividade principal na rotina destas pessoas, e, desta forma, o corpo toma a cena e se torna o protagonista da vida cotidinana. É o corpo mais uma vez sendo o veículo de sofrimentos e vazios psiquicos, sendo ele sua maior forma de manisfestação de sintomas compulsivos.
Bettina Kligerman
bettina.kligerman@gmail.com