A pandemia silenciosa de deficiência de vitamina D

     A deficiência de vitamina D continua prevalecendo em todo o mundo, estima-se que entre 35% a 55% da população mundial apresenta níveis séricos abaixo do ideal. Por ser uma das vitaminas de maior importância para o indivíduo, a questão da sua deficiência  tornou- se um problema geral de saúde, configurando-se uma pandemia silenciosa. 

     Para avaliar o status da vitamina D no corpo, usa-se os níveis séricos  de 25-hidroxivitamina D (25OHD) e a deficiência é definida como níveis abaixo de 20 ng/mL e a deficiência grave é definida como níveis abaixo de 12 ng/mL. 

     Valores entre 20 e 60 ng/mL são considerados adequados para a população geral com menos de 65 anos, e níveis entre 30 e 60 ng/mL são recomendados para indivíduos em condições vulneráveis como idosos, gestantes e  algumas condições clínicas. 

     Ela possa ser encontrada em certos alimentos na forma de D2 ou ergocalciferol (fígado, gema de ovo, peixes gordurosos como sardinha, salmão ou cavala) ou ser metabolizada sob a pele em D3 ou colecalciferol a partir dos raios UVB do sol. O  nível de vitamina D no organismo é influenciado por vários outros fatores ambientais: 

 

  • baixa exposição à radiação UVB
  • baixa ingestão de alimentos ricos em vitamina D, 
  • envelhecimento da pele
  • índice de massa corporal elevado
  • alterações na microbiota intestinal
  • roupas mais pesadas
  • fatores genéticos de algumas etnias

 

     Além disso, após entrar no organismo, seja pela alimentação ou pela exposição à radiação UVB, a vitamina D sofre outros processos no fígado (metabolização) e nos rins (hidroxilação) até transformar-se em sua forma ativa. Somente depois desse processo, a vitamina D estará apta para exercer sua principal função no organismo: a regulação do cálcio.

 

 E como ela faz isso?

  Ela aumenta a absorção intestinal de cálcio e fósforo, reduzindo a reabsorção óssea, e aumentando a força e função dos músculos. Por isso, indivíduos com níveis adequados de vitamina D no organismo apresentam menos quedas e menor diagnóstico de osteoporose e de fraturas, mesmo crianças. Enquanto, indivíduos com níveis inadequados de vitamina D não conseguem absorver todo cálcio ingerido (por alimentos ou suplementos/comprimidos), mesmo quando os mesmos ingerem grandes quantidades de alimentos ricos em cálcio (como leite e seus derivados). Assim, a deficiência de vitamina D está implicada no raquitismo, osteomalácia e hiperparatireoidismo secundário, além de aumentar o risco de fraturas.

Novos rumos 

       Para além dos seus efeitos  músculo-esqueléticos bem conhecidos, várias pesquisas com foco nas ações extraesqueléticas da vitamina D foram desenvolvidas nos últimos anos. E os resultados atuais apontam para efeitos promissores na redução da progressão para diabetes mellitus tipo 2 (DM2), diminuindo a mortalidade por câncer e diminuindo a incidência de doenças autoimunes. 

      Contudo, esses estudos mostram a necessidade de um acompanhamento longitudinal mais longo e de análises clínicas contínuas para avaliar melhor os resultados potenciais e assim, elucidar se o status da vitamina D pode influenciar a saúde extraesquelética. 

Referências: 

Silva ICJ, Lazaretti-Castro M. Vitamin D metabolism and extraskeletal outcomes: an update. Arch Endocrinol Metab. 2022 Nov 11;66(5):748-755. doi: 10.20945/2359-3997000000565. PMID: 36382764; PMCID: PMC10118817

Rihal V, Khan H, Kaur A, Singh TG, Abdel-Daim MM. Therapeutic and mechanistic intervention of vitamin D in neuropsychiatric disorders. Psychiatry Res. 2022 Nov;317:114782. doi: 10.1016/j.psychres.2022.114782. Epub 2022 Aug 14. PMID: 36049434.

 

Profa. Dra. Lizanka Marinheiro, PhD, Md

Professora  das Pós-graduações em Saúde da Mulher e em Pesquisa Clínica Aplicada à Saúde da Mulher

Coordenadora da Pós-Graduação em Endocrinologia Feminina e Chefe do Ambulatório de Endocrinologia Feminina

Instituto Nacional de Saúde Fernandes Figueira – FIOCRUZ