Dieta com baixo teor de carboidrato para quem tem diabetes tipo 2

Diabetes é um problema de saúde relevante e crescente em todo o mundo, estima-se que 1 em 11 adultos tenha diabetes no mundo, sendo a doença responsável direta por 11% das mortes anuais. Apesar de todos os avanços farmacêuticos e da ênfase global no controle glicêmico, as dietas estruturadas são reconhecidas como um componente essencial do tratamento do diabetes. O diabetes tipo 2 é a forma mais comum de diabetes, respondendo por 90-95% dos casos, e caracterizado pela resistência à insulina impulsionada pela hiperglicemia crônica. É comumente diagnosticado por medidas de glicemia, como concentrações de glicose no sangue em jejum (de 7,0 mmol / L ou acima) ou valores de hemoglobina glicada (HbA 1c) de 6,5% (48 mmol / mol ou acima). Está associada a vários fatores de risco, incluindo influências genéticas, de estilo de vida e principalmente a obesidade.

As intervenções dietéticas estruturadas são comumente recomendadas para pacientes com diabetes, com recomendações variadas de organizações autorizadas. Como um dos principais mecanismos subjacentes do diabetes tipo 2 é a resistência à insulina impulsionada em parte pela hiperglicemia crônica, sugere-se que reduzir a ingestão alimentar de carboidratos, a maioria dos quais é absorvido como glicose ou frutose, melhora o controle da glicose no sangue e os resultados do diabetes tipo 2. As dietas estruturadas com restrição de carboidratos têm sido descritas de forma variável na literatura de pesquisa, mas comumente agrupadas em três categorias: 20-50 g / dia de carboidratos ou menos de 10% da dieta de 2.000 kcal / dia que geralmente é suficiente para induzir cetose (muito baixo teor de carboidrato); menos de 130 g / dia ou menos de 26% da dieta de 2.000 kcal / dia (baixo teor de carboidrato); e menos de 45% da dieta de 2.000 kcal / dia. Estudos comparativos entre dietas com baixo ou muito baixo de teor de carboidrato e dietas de baixo teor de gordura em pacientes com diabetes tipo 2, demonstraram evidências consistentes de taxas de remissão de diabetes mais elevadas para os pacientes em dieta de baixo ou muito baixo teor de carboidrato após um período de 6 meses, também foi observado aumenta da perda de peso, redução no uso de medicamentos e melhora nas concentrações de triglicerídeos. Além disso, não se observou nenhum efeito prejudicial estatisticamente significativo e clinicamente importante sobre os fatores de risco cardiovascular ou eventos adversos. No entanto, observa-se uma tendência de aumentos clinicamente importantes no colesterol da lipoproteína de baixa densidade após 12 meses. Em geral, a maioria dos benefícios diminui em 12 meses.

Embora as melhorias observadas em 6 meses tenham tendência a diminuir em 12 meses, com base nos dados disponibilizados pelas pesquisas até o momento, é difícil determinar se esta diminuição está relacionada a intensidade da intervenção ou a adesão à dieta após os 6 meses. As evidências sugerem que os pacientes que aderem às dietas de baixo ou muito baixo teor de carboidratos por pelo menos 6 meses podem apresentar maiores taxas de remissão do diabetes sem consequências adversas em comparação com outras dietas comumente recomendadas para o controle do diabetes tipo 2. Contudo, é preciso considerar estudos recentes que que tem sugerido associação entre adesão a dietas de baixo ou muito baixo teor de carboidratos e aumento da mortalidade. Desta forma, o recomendável é indicar dietas de baixo ou muito baixo teor de carboidratos por curto prazo para o controle do diabetes tipo 2, em paralelo ao monitoramento ativo e ajuste de medicação conforme necessário.

Fonte:

Goldenberg J.Z., Day A., Brinkworth G.D., Sato J., Yamada S., Jonsson T. Efficacy and safety of low and very low carbohydrate diets for type 2 diabetes remission: systematic review and meta-analysis of published and unpublished randomized trial data. BMJ 2021; 372: m4743.