HUMOR, DIETA, OBESIDADE E PRECONCEITO.

site alegria ano 2016HUMOR, DIETA, OBESIDADE E PRECONCEITO.

 

 

Queridos leitores, alunos, assistentes, colaboradores, amigos.

 

Feliz Ano Novo. Muita paz, alegrias, sucesso, saúde e vida!!

 

Mais um ano para escrevermos metas, desejos e novos começos nas páginas de nossas agendas para o ano que se inicia.

Propositalmente, deixei passar toda a euforia das festas de fim de ano, para, embora não deixasse de comemorar, me confraternizar e desejar tudo de muito bom à todos, pois não acho datas rótulos, e sim momentos para serem celebrados com muita alegria, energia e fé, para publicar este texto.

 Como endocrinologista, escolhi, como  tema para tecer algumas palavras, a obesidade.

 

A obesidade, o aumento de peso, o sobrepeso, o medo de engordar, a necessidade de querer ter um corpo magro e esguio com um biotipo, muitas vezes, diferente por exemplo de se ter um tom de pele diferente daquele com  o que  se nasceu, é fato de preocupação de governos e de centros de pesquisas do mundo inteiro, assim como da mídia em geral. A informação digital hoje, permite a qualquer cidadão alfabetizado, que tenha acesso a este mundo, consultar desde sites médicos com informações sobre saúde,  receitas e dicas de nutricionistas extremamente competentes, aos sites do NIH. Recentemente começamos a ver também, com conteúdos tão claros quanto os da área de nutrição e medicina, o mundo do fitness, que vem trazendo cada vez mais informações fidedignas e baseadas em evidências científicas, estimulando e dando informações no que concerne aos cuidados com o corpo, tanto visando o cuidado com o coração, quanto com a forma física. Infelizmente temos também, paralelamente, um verdadeiro “lixo” digital altamente irresponsável, com informações falsas e desencontradas, que só vem a atrapalhar os que buscam informações.

 

Enquanto isso, a farmacologia investe milhões de dólares ano a ano na pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos na tentativa de descobrir medicamentos destinados ao tratamento da obesidade. Isso sem falar na indústria alimentícia que cada vez mais tenta buscar e desenvolver alimentos mais saudáveis, fat-free, sugar-free, etc.

Aliados à mesma, outro mercado em franca ebulição, hoje graças a Deus mais facilmente disponível e a um menor custo, chegam os produtos orgânicos, estes indiscutivelmente mais saudáveis e livres de produtos químicos com teor carcinogênico comprovados cientificamente.

Por outro lado, o glúten e o leite, coitados, são hoje um modismo, erroneamente responsabilizados por muita coisa como  desde a constipação crônica à síndrome metabólica, e  já enchem as prateleiras de supermercados  e lojinhas  de luxo de produtos mais caros e ditos para o emagrecimento e tidos como mais saudáveis. Lamentavelmente também,  vemos ser oferecidos tratamentos em  consultórios ( e não são de gastroenterologistas ou de proctologistas), serviços de lavagens intestinais com o nome de “colonoterapia”, para emagrecer, e acabar de vez com os problemas de constipação, que são muito comuns hoje em dia. Tudo, em nome do combate à obesidade ou ao emagrecimento.

 

 Nos perguntamos então: por que a epidemia da obesidade cresce em números alarmantes, levando a Organização Mundial de Saúde já  ter constituido uma força tarefa para o combate à mesma? Por que é tão difícil aderir à uma dieta, mudar os hábitos alimentares, fazer uma reeducação alimentar como queiram chamar, emagrecer e manter o peso, manter com regularidade a prática de exercícios físicos com a recomendação da Associação Americana de Esportes , de pelo menos 3 vezes por semana apenas 30 minutos para diminuir em 30 % a taxa de doenças causadas por mortes cardiovasculares? Por que é tão difícil nossos pacientes tomarem corretamente as medicações por nós prescritas (quando se tem acesso à tudo isso claro), com disciplina e regularidade, evitando a auto medicação e/ou o boicote à mesma?

 

Sabemos ser a mesma uma doença multifatorial, e esta resposta está longe de ser simples, fácil e única! A genética, o ambiente, várias causas hormonais, o sedentarismo, o stress, inúmeros transtornos psicológicos, maus hábitos alimentares, a presença cada vez maior de xenobióticos e disrruptores  endócrinos presentes nos alimentos e no meio ambiente, a pobreza, estão envolvidos na causa da obesidade.

 

Estamos começando um ano em que para muitos uma das metas é emagrecer e fazer exercícios como forma de prevenção, manutenção ou tratamento de saúde. E tudo que falamos até agora é absolutamente sabido, e lugar comum em qualquer mídia, faz parte das recomendações de qualquer médico, nutricionista ou professores de educação física etc etc. O verão chegou, os homens querem perder os “pneus”e a barriga depois das festas de fim de ano, e as mulheres diminuir todas as medidas e usar o biquini de lacinho, as crianças, que talvez durante todo o ano viram seus pais comerem em casa e lhes oferecem bife a milanesa com batata frita, ao invés do mesmo bife grelhado com legumes cozidos ou até mesmo a batata cozida, sem falar nos fins de semana fazerem baldes de pipoca ou pizza de lanche, ficam muito zangadas e tristes quando são  chamadas de “baleias” pelos colegas. A obesidade infantil também cresce de forma galopante hoje, e é uma das maiores causas  de bullying nas escolas, afetando de forma grave  o rendimento escolar e sendo uma das causas de depressão e de outros transtornos psicológicos na infância e adolescência. Isto sem falar que nas admissões e entrevistas para emprego, os candidatos com sobrepeso e obesos muitas vezes são descriminados!

 

Pequenos hábitos que vão deste arrumar sua geladeira e cozinha, com panelas limpas e ditas sustentáveis, beber 2 litros de água por dia, ingerir alimentos ricos em fibra que aumentam a saciedade,  planejar refeições, procurar variar o cardápio e adaptar à culinária regional, entender o mínimo necessário de nutrição básica e das quantidades ingeridas e seu equivalente calórico, para não se enganar que arroz integral ou tapioca, apesar de bem saudáveis, são isentos de calorias e não engordam menos que arroz branco e pão, desfazer mitos, como os que  “comida japonesa não engorda e massa não pode, e é terminantemente proibido numa dieta”, assim como doces e bebidas alcoólicas também nunca vão poder ser consumidos enquanto você necessita emagrecer…seus 20 kg, não se iludir com as dietas da moda que surgem a cada mês como as da lua, das estrelas ou de Marte, não esperar emagrecer 5 kg em 1 semana por exemplo, e ver que muita coisa na vida depende de esforço, disciplina e paciência…. tudo isso, também se sabe!!!

 

E então: quais  motivos  poderiam estar envolvidos levando os índices de sucesso para o emagrecimento serem ainda tão baixos, frustrando pacientes, psicanalistas, médicos, nutricionistas, mestres e educação física etc?

 

 

meu ver, vai aqui minha opinião pessoal baseada em 33 anos de clínica pública e privada.

 

 

A  falta de carinho, a falta de solidariedade, a falta de cuidado e atenção com si próprio e com o outro, a solidão e a falta do compartilhar e dividir amizade, parceria e até mesmo a competição e ciúme entre casais, a falta de  uma conversa e um aperto de mão entre amigos e dentro da própria família, a falta de gratidão, a insatisfação com si próprio e o sempre desejar mais e o corpo do outro, ou o que a mídia propaga como ter o corpo perfeito, a inércia para mudança e achar que não  se tem mais jeito ou já é caso perdido, o derrotismo em pensar que não se  pode pagar uma academia, e não ver que existem ruas, praças, praias, escadas de edifícios, onde se pode caminhar ou subir e descer com um bom tênis, e isso também faz efeito se for feito com regularidade, a preguiça e falta de planejamento de ir a feira ou a um sacolão e escolher legumes e frutas da estação, e assistir bons programas de TV, que hoje ensinam como se pode ter uma alimentação mais barata e saudável, entender que  se ainda a medicina está a todo custo tentando mudar a genética, nós por enquanto, podemos mudar, com muito esforço, o ambiente onde vivemos!

 

Claro, todas as causas sociais onde falta comida em tantos pratos, aliados a tudo dito anteriormente são causas de obesidade e doenças da pobreza. Saúde e educação são deveres do Estado e direito do cidadão, principalmente de nós brasileiros com uma das cargas tributárias das mais altas do mundo!!!!

 

Então, se você quer por em prática suas metas de ter um corpo mais saudável e mais magro eu diria; 

  • Não busque modelos de corpo;
  • Estabeleça metas realistas;
  • Entenda o básico de nutrição – proporções, o que diet, ligth, integral etc. Procure anotar pelo menos por 3 dias antes de começar seu programa, o que você come, antes de dizer ao médico…. que não come nada… Vento até onde sei.. não engorda. Mais que números, os resultados gerais são mais importantes. A equipe que está lhe acompanhando, sim pois o tratamento da obesidade hoje depende de uma equipe multidisciplinar, estará encarregada de todas as medições necessárias além de peso e altura, assim como avaliar qual e quanto de exercício seria o mais indicado pra você. Tente não se pesar todo dia!
  • Seu endocrinologista certamente avaliará se há ou não necessidade de medicação! Não se auto-medique ou pegue a receita do vizinho que emagreceu 10 kg em uma semana! Isso não existe!!!!
  • Não tenha preconceito em conversar com seu médico e dizer: eu devoro uma caixa de chocolate todinha à noite pois estou sozinha, ou, não aguento mais ser gorda(o), sou deprimido(a), ou estou uma jamanta, ou ainda, me chamam de supositório de elefante…Como e vomito depois…
  • Converse com você mesmo e com seu médico para ver se uma psicoterapia será bem vinda ou extremamente necessária, assim como exercícios de Yoga ou Kunie; existem hoje clínicas populares nas Sociedades de Psicanálise e Universidades Públicas de Psicologia de credibilidade, assim como ONGS que fazem trabalhos belíssimos em caráter de troca voluntária de serviços por tratamento, como o Instituto Nyingma por exemplo, cujo foco é a meditação.
  • Ria; ria muito, até do que não tem graça… A vida não está fácil, que eu saiba para ninguém! Dentro de uma perspectiva histórica, sempre existiram crises, epidemias, etc. A criatividade, a fé e a forma de como lidamos com estas crises, aliadas a uma disciplina e novos hábitos, e a adaptação às novas mudanças impostas pela vida, são os que nos fazem sair melhor ou pior delas, pelo menos individualmente. Já que numa perspectiva mais ampla, estas crises são de resolução bem mais complexa, e como a obesidade, dependem de inúmeros fatores.
  • O bom humor, genuíno é comprovadamente bom pra saúde. Não guardar tanta mágoa e rancor, colecionar frases como “mas eu deveria ter feito assim”, tenho pouca sorte e fulano tem mais que eu, sou um(a) coitado(a) e o mundo está contra mim, apenas gastarão sua energia. Lembre-se: o tempo passa muito rápido e deve ser muito bem aproveitado, e todos hoje estão na mesma luta pela sobrevivência e com os mesmos problemas ou talvez piores que os seus! Direcione sua energia para  coisas mais produtivas.

 

Gosto muito da coluna aos sábados no Globo da Ana Cristina Reis, que  falava em sua coluna de 2 de janeiro de 2016, cujo título é: VAMOS SER POSITIVOS , e nela dizia,“Pensar positivo hoje demanda muito esforço”. E eu pergunto?

 

 

 E o que é nessa vida que não demanda esforço?

 

 

Feliz 2016, com mais risadas, menos peso, menos preconceito, mais aceitação e mais, muito mais amor!!

 

Lizanka Marinheiro

Endocrinologista -FIOCRUZ