Muito se tem estudado o uso da vitamina D nos últimos anos. Sua relação na preservação da massa óssea, na prevenção de Diabetes e resistência a insulina, são já bem documentadas. No entanto, relações com outras doenças tais como patologias cerebrais, como Doença de Alzheimer, acidentes vasculares cerebrais entre outras, ainda precisam ser melhor estudadas.
Recente estudo publicado em maio último, não mostrou nenhuma relação entre a vitamina D e cognição, e patologia vascular cerebral. Ambos os estudos foram conduzidos em uma população de meia idade que estavam participando do Atherosclerosis Risk in Communities (ARIC), usando-se o exame de Ressonância Magnética. O estudo da cognição, publicado online no European Journal of Neurology em 21 de maio, não encontrou associação significativa entre os níveis mais baixos de Vitamina D e os menores escores dos testes cognitivos,ou com a mudança na pontuação ao longo do tempo, em 1650 indivíduos com risco de demência .
Um outro estudo também usando a Ressonância Nuclear Magnética publicado on-line no JAMA Neurology em 26 de maio, constituído por 1622 indivíduos da mesma população que se submeteram ao exame no inicio do estudo, e em 888 que realizaram um segundo exame de ressonância magnética do cérebro após 10 anos, mostraram que os níveis de Vitamina D não foram associados com a hiperintesidade da massa branca e infartos, em análises transversais ou prospectivas.
Daí uma pergunta: Seria os baixos níveis de Vitamina D, também causa da doença cerebral, ou seria a Vitamina D apenas um marcador?
Se realmente for provado que estas doenças têm como um dos fatores causais, os níveis de vitamina D, este fator poderá ser facilmente modificado e o tratamento das mesmas poderia ser modificado e corrigido com a reposição da mesma. Mas ainda não se sabe se isto é um fator causal ou não. A Vitamina D pode ser apenas um marcador de algumas doenças, e pessoas com problemas de saúde são menos propensas há passar mais tempo expostas ao sol, portanto, teriam níveis mais baixos de Vitamina D.
Devido ao baixo nível de vitamina D ter sido associado à hipertensão e diabetes, que por sua vez têm sido associados com hiperintensidade da substância branca no cérebro e déficit cognitivo, autores do estudo, tinham como hipótese que os baixos níveis de vitamina D estariam associados com a hiperintensidade da substância branca, acidentes vasculares cerebrais silenciosos e prejuízo cognitivo, mas não houve nenhuma relação entre os níveis de vitamina D nos resultados em qualquer uma das análises nos estudos. Foi encontrada uma associação positiva entre os baixos níveis de vitamina D e cognição, no entanto foram estudos transversais, analisando-se a Vitamina D e patologia cerebral em apenas um ponto do tempo, sem poder explicar o que veio antes, se os baixos níveis da mesma ou a patologia cerebral.
Antes que qualquer recomendação clinica possa ser feita, estudos com ensaios clínicos controlados precisam ser realizados para mostrar a redução de patologias cerebrais com o tratamento de vitamina D. Alguns destes estudos já estão em andamento a exemplo do estudo VITAL, que está sendo conduzido pelo Instituto de Saúde dos Estados Unidos,( National Institutes of Health-USA), que verifica a incidência de acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio em idosos aleatoriamente, sendo que um grupo faz uso de 2000 UI de vitamina D, e outro usa apenas placebo.
Enquanto não se chega a um consenso, permanece a velha e já conhecida recomendação na prevenção de doenças cardiovasculares e cerebrais: ter uma boa alimentação, fazer exercícios físicos e procurar, dentro do possível, ter uma vida menos estressante.
Fonte:
Hughes, Sue. No Link Between Vitamin D and Cognition, Brain Pathology. Junho, 2014. Site: www.medscape.com
Lizanka Marinheiro- endocrinologista IFF- FIOCRUZ
Emille Capistrano – Mestranda em Pesquisa Clínica Aplicada à Saúde da Mulher e da Criança – IFF-FIOCRUZ